O Brasil acaba de descobrir que tipo de governo conduz a nação: é o da República do Caminhão, estimulada pela incompetência de um governo fraco, pelos patrões donos de transportadoras _ e também pela nova política de preços da Petrobras, que ordenha o mesmo contribuinte vítima do assalto à estatal.
Continua depois da publicidade
Se esta greve servir para alguma coisa, deveria inspirar os futuros governos a quebrar o império do modal rodoviário, do qual os brasileiros são reféns indefesos. Não há país desenvolvido no mundo que não tenha bem distribuído e integrado os sistemas de transporte em seus mapas, entre o ferroviário, o marítimo e o que rola sobre as grandes carrocerias que hoje engarrafam o Brasil.
Confira também as publicações de Cacau Menezes
O trem prevalece nos países avançados, com mais de 60%. O modal rodoviário tem sua grandeza balizada entre os 30% e 40%. Só em Pindorama uma carga de grãos sai do porto de Rio Grande (RS) rumo à Natal (RN), coleando pelo litoral de uma costa de 7.491 mil quilômetros _ e por estradas de rodagem.
Um grande graneleiro transporta entre 150 mil toneladas e 220 mil toneladas _ ou seja, retiraria das nossas estradas alguns milhares de caminhões de 20 toneladas. Por que, no Brasil, mares e rios não são “navegáveis”?
Continua depois da publicidade
Aprendemos na aula de história que D. João VI, fugindo de Napoleão, “abriu os portos do Brasil às nações amigas”. Certamente se esqueceu de abri-los aqui “dentro” do Brasil.
País de maior número de rios navegáveis do mundo _ mais de um milhar _ somos também o de menor navegação hidroviária do planeta. Contam-se nos dedos de uma mão os rios completamente navegáveis _ ou as hidrovias com eclusas e mudanças de nível _ capazes de oferecer salvadora alternativa ao massacre das rodovias.
***
Antes da greve se sabia que o caminhão era (é) essencial à vida econômica, comercial e civil deste país continental. E que sua paralisia equivaleria a um enfarte do sistema e a um colapso inimaginável da economia.
Continua depois da publicidade
Agora já sabemos que o caminhão assumiu o poder. Resta-nos rezar para que os seus humores não se zanguem de novo, daqui a 15 dias.