A vida responsável recomeçaria no Brasil depois do Carnaval, com a votação das reformas. Verdade ou fake news?
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A única reforma digna de nota – para que se preserve também o bom humor – foi a reforma dos bafômetros. Já estão em vigor os novos aparelhos que medem bebedeiras em apenas cinco segundos, sem que o motorista precise soprar um canudo: basta expelir o seu bafo de onça. E como reagiu a estatística dos bebuns que não desistem de beber e dirigir?
Até agora o mau hábito não diminuiu. O que dizer de um sujeito que, tendo a família a bordo, arrisca ultrapassar um caminhão em faixa dupla contínua, apesar do trecho em curva e em aclive? O que virá do outro lado? As reformas do Temer? O Apocalipse? Um ônibus? Outra carreta de 12 toneladas? Não importa. O motorista arrisca. Mesmo sabendo que sua vida – mais a dos entes queridos e a de outros inocentes em trânsito – estará no limiar de uma tragédia.
Para esses motoristas, a lei seca – hoje desafiada por irresponsáveis que continuam bebendo ao volante – é até branda. No Brasil é assim: se as leis brandas já não funcionam, as radicais funcionarão menos ainda. Acaba sendo mais uma para “não pegar”, embora o saldo desta guerra sobre rodas esteja mesmo pedindo uma solução mais drástica.
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Outro bafômetro a ser instituído na vida brasileira deveria ser o que previne a roubalheira. Bafômetro contra gatuno. Já imaginaram um projeto de lei que obrigasse cada um dos 513 deputados federais e cada um dos 81 senadores a soprar um bafômetro antes de entrar no plenário? Uma garantia de que a sessão haveria de ser, senão totalmente lúcida, pelo menos “sóbria”.
Os bafômetros seriam instalados à porta dos palácios, dos ministérios e das estatais. E por que não nos umbrais dos partidos políticos, que no Brasil são mais de 35?
Dirigir um carro – ou um país – requer a responsabilidade de saber que dos seus atos depende a melhoria do convívio social. O problema, no Brasil, é sempre de dosagem. A lei já começa a não ser cumprida quando o seu poder coercitivo aceita o motorista “meio bêbado” ou o administrador “meio honesto”.
É a tal tragédia brasileira: o sujeito estava “meio sóbrio”, mas não enxergou direito a curva. E morreu, pois a estatística não registra a existência de alguém “meio morto”.
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Quem não sobrevive é aquele “meio bêbado” que acabou totalmente morto.