Antigamente, os cinemas de Floripa hospedavam-se no entorno da Catedral. Ia-se à missa e, depois, ao cinema. Era como se adquiríssemos o direito de rezar e de divertir-se no mesmo “ticket”, cumprindo, primeiro, a penitência.
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Lembro-me do primeiro filme em Cinemascope, “color by De Luxe”, no Ritz, 1954, tela alongada, um espanto para a época. Em cartaz , “The Robe”, ou , “O Manto Sagrado”, com Richard Burton, Jean Simmons e Victor Mature.
Houve dia em que assisti a dois “Sansão e Dalila”, na mesma tarde. Um era drama; o outro, comédia. O primeiro, da fábrica hollywoodiana, com o mesmo Victor Mature e Hedy Lamarr. E o seu pastiche tupiniquim, com Grande Otelo e Oscarito, este no papel do herói traído, cuja força vinha da cabeleira.
Pelos nomes das casas que frequentou, cada cinéfilo ilhéu pode contar sua própria história de vida. Não peguei o “Odeon”, que até o final dos anos 1940 aproveitava a plateia do Teatro Álvaro de Carvalho para albergar uma tela de cinema, com direito a três “gongos”, que anunciavam o começo das sessões.
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Em compensação, acompanhei todos os grandes sucessos do Ritz, em meados dos anos 50: “O Manto Sagrado”, “Os Dez Mandamentos”, “Sansão e Dalila”, “O Rei dos Reis”, “Spartacus”, “Demétrio e o Gladiador”, “Ben-Hur” e outros tantos épicos.
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E houve o Cine São José, claro, joia do tempo em que os cinemas se chamavam “Palace” e justificavam o nome, sem imaginar que um dia acabariam servindo de sacristia para igrejas sem história, nada ortodoxas.
Do cinema da rua Padre Miguelinho, inaugurado em 1956, cintilam em minha memória comédias como “Gigi” (Audrey Hepburn e Louis Jourdan) e “Quanto Mais Quente Melhor” – talvez a melhor comédia do mundo, dirigida por Billy Wilder, com geniais atuações dos astros Marilyn Monroe, Jack Lemmon, Tony Curtis – e do coadjuvante Joe E. Brown.
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Admite-se: nada como as salas climatizadas, o som “dolby stereo”, as imagens digitalizadas no conforto dos cine-shoppings, exemplos de modernidade.
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O que não invalida a saudade do “cinema de rua”. O glamour das velhas salas ainda me parecem insuperáveis – claro, uma saudade tola, própria dos sessentões e setentões “grávidos” pela nostalgia da infância.