O mundo não se resume em escolher um candidato. Pior: um daqueles candidatos do tipo “mais do mesmo”. Nostálgico, um amigo me desafia a citar “quatro coisas boas e puras”, ainda sobreviventes nessa emporcalhada atmosfera dos tempos que correm.
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Difícil. Uma delas era o futebol, esporte em que já fomos mestres, hoje irremediavelmente mercantilizado pela Fifa e pelos tais “empresários”, que o transformaram num negócio altamente lucrativo – menos para a torcida brasileira. Mas nem todas as feridas serão curadas pelo futebol. Será que o jogo da bola ainda servirá de “pomada Minâncora” para os furúnculos da política?
De repente, lembro-me logo de quatro coisas boas que ainda sobrevivem. Uma floricultura às vésperas do raiar da primavera; uma criança e seu baldinho de praia, num domingo de sol; um matuto conduzindo o seu curió de gaiola, em pleno feriadão; as vendolas de esquina, aqueles antigos “empórios” que ainda mantém o hábito e a freguesia das “contas de caderno”.
Quando vejo flores e belos arranjos na vitrine de uma floricultura, lembro-me de um verso de Paul Élouard, segundo o qual “o flerte e as flores são a aquarela do amor”.
Se há flores sendo embaladas, há alguém tentando seduzir e outro alguém disposto a ser seduzido, o mundo não está perdido.
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Compre flores também, caro leitor! – e presenteie sua amada com rosas encarnadas. Não despreze sequer os copos de leite, mesmo com sua fama de flor de cemitério. Tudo o que vem da terra e da natureza é belo, é sublime. É puro.
E haverá crédito mais puro, mais limpo e asseado do que o do “Seu” Zé da Venda, em cuja “caderneta” se inscrevem os créditos abertos aos fregueses pobres, porém honestos? Haverá “fidúcia” mais honrada neste mundo em crise, dívida mais encantadora, despojada de garantias bancárias e acordos com o FMI?
Se os bigodes estão em baixa na República, em cujos fios já não se pode confiar, um “freguês de caderneta” ainda é um ser humano decente e amável.
Haverá prova maior de amor ao próximo do que a crença em promitentes pagadores que compram “no fiado”, e honram o pagamento? Haverá nos dias de tanta descrença de hoje maior prova de fé?
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Neste mundo correto não há “inadimplentes”. Os fregueses penduram tudo, mas pagam com honra, no seu devido tempo.