Foi difícil. Já se sabia. Esse México vinha sendo uma “asa negra”, faz tempo. Preferia ter jogado contra um europeu, menos humilde para marcar cada milímetro do campo, como fizeram esses mexicanos chatos.
Continua depois da publicidade
Cada bola era disputada como se fosse um prato de “tortilla” e o Brasil ficou cercado pelos vorazes e nem sempre leais jogadores de verde. Aos poucos, o time brasileiro retomou a tranqüilidade e o controle do jogo, até abrir o placar com um gol de Neymar, no chão, de “carrinho”, com raça, técnica e coragem.
Certo tipo de torcedor – o que espalhou “memes” de “cai-cai” contra o craque – se obrigou a engolir o preconceito: foi “caído”, e sendo artilheiro, que Neymar colocou o Brasil nas quartas-de-final.
O torcedor genuíno, arrebatado, é aquele que não torce contra. E que não ama odiar o seu próprio time, investindo-se da sua roupa predileta – a de “espírito de porco”.
Mestre Armando Nogueira elogiou o perfil do torcedor apaixonado e fiel:
Continua depois da publicidade
– A perfeição do futebol não está, como o leitor imagina, dentro do campo; está, certamente na arquibancada. Ali, feroz ou silencioso, o torcedor exerce o seu dom divino de acertar sempre. Não erra um chute, não erra um drible, não erra um passe. E é precisamente essa soberana competência que o leva a vaiar o próprio ídolo que perdeu o gol; o gol que ele nunca deixou de fazer, lá de cima, chutando as pernas do vizinho.
Aliás, chutar canelas e joelhos foi o que o time do México fez de melhor. Na bola, o goleiro brasileiro não precisou fazer nenhuma grande defesa, ao contrário do mexicano Ochoa, que salvou sua equipe de uma goleada.
Gente: vamos continuar na boa torcida. Capaz de, pela união das vontades, levar esse povo brasileiro, tão atacado pelos pontapés dos maus políticos, a sentir o alívio de uma grande alegria – de maneira consciente e sem alienações.
***
Filósofo da alma macunaímica, Nelson Rodrigues, detectou um dos muitos sentimentos negativos do brasileiro “do contra”:
Continua depois da publicidade
– O brasileiro não está preparado para ser “o maior do mundo” em coisa nenhuma. Ser “o maior do mundo” em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
Quem sabe esta Copa possa significar uma nova oportunidade para o brasileiro aprender a admirar mais a si mesmo e ao Neymar.
Leia outras crônicas de Sérgio da Costa Ramos
Direto da Rússia: veja também as publicações de Cacau Menezes, Roberto Alves e Diorgenes Pandini