Pintores-marinheiros, como o paulista Giuseppe Pancetti, tido como o maior paisagista brasileiro, e Eduardo Dias, o maior marinhista catarinense, navegam com o pincel.

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Navegar e viver são verbos necessários e, mais do que nunca, é preciso saber conjugá-los. E saber interpretar a frase imortal, atribuída a Fernando Pessoa (mas do poeta romano Petrarca), segundo a qual “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Dir-se-ia que navegar é conduzir a vida no mar, algo possível. Viver é “impreciso, inexato”. Não é algo “conduzível” pelo homem.

 

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Os pintores mais expressivos de Santa Catarina amavam o mar e expressavam esse afeto em suas telas. Ao contrário dos que hoje negam à Ilha de Santa Catarina o mesmo direito ao mar que transformou os portugueses em audazes navegadores, os pintores catarinenses gostam do mar. São preciosas as “marinhas” de Eduardo Dias – e até as paisagens marcadas pelo azul, de mestre Martinho de Haro, barcos ancorados, ou do muralista Hassis, as pedras “sagradas” de Itaguaçu.

Faz pouco mais de um século que as telas de Eduardo Dias retratavam o “viveiro de barcos” ancorados placidamente no espelho das duas baías, na passagem do século 19 para o 20. Centenas de barquinhos pareciam refletir na grande tela a vocação dos ilhéus para a bela “estrada” de líquidos cristais.

Hoje, para um casco descer ao mar, só falta a exigência de “estudo de impacto ambiental”… Como se navegar fosse… poluir.

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No tempo do grande paisagista do mar – nosso Eduardo Dias –  as telas refletiam outra realidade das nossas baías: nelas sempre havia um convés de navio, o sol, o sal, o mar. Caravelas, navios a vapor, escunas, baleeiras –ou simples bateiras coloridas e açorianas – embarcações de bom calado, ou simples casquinhas flutuantes, qualquer assoalho que boiasse lançava sua âncora na baía sul, desde os tempos imemoriais de Sebastiano Caboto, o “prático” que batizou a navegação de “cabotagem”.

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Hoje, há ilhéus que não gostam do mar. Nossa Ilha deve desculpas ao mar, ao marzão.

 

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