Não são apenas os institutos de pesquisa que falham. Nessa aventura de prever o futuro, qualquer um pode dizer besteira – e tem gente, as cartomantes, os Ibopes e os políticos que ainda ganham com isso, dinheiro, prestígio e eleições.

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Prever o futuro sempre foi uma diversão – e um meio de vida dos profetas, falsos ou verdadeiros. Antecipar o porvir, o l’avenir a que se refere o adivinho francês Nostradamus, é fácil. Basta prever acontecimentos já vividos. As previsões, no fundo, são fantasias baseadas no mais profundo dos sentimentos humanos, o déjà-vu.

Querer saber o que virá é também um talismã dos supersticiosos, que somos todos nós. Prever o óbvio é fácil. Antecipar o evidente, o axiomático, o incontestável, o que salta à vista, é uma barbada. Difícil mesmo será dizer, com 10 meses de antecedência, quem ganhará a eleição presidencial de outubro.

Claro que não vale perguntar aos marqueteiros dos candidatos. Cada um teria a resposta na ponta da língua:

– Vai ser a Bolsonaro, óbvio. Ele terá apoio dos anti-Lula no segundo turno.

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– Vai ser o Eymael, é claro. Ey, ey, eymael! Aquele da musiquinha, não tem?

O mundo anda cheio de Nostradamus às avessas. Como aquela elegante senhora inglesa, embarcada em formidável cidade flutuante de 60 mil toneladas, numa manhã festiva de 10 de abril de 1912 no porto de Southampton. Ela ouviu do próprio comandante daquele palácio, a garantia:

– Este é insubmergível, minha senhora.

Ela acreditou. Quatro dias depois, em 14 de abril de 1912, o Titanic afundou com a senhora e todas as suas jóias, mais os 2.227 passageiros, 1.517 dos quais morreram nas águas geladas do Atlântico Norte.

***

Se prevalecer o desencanto das ruas, temo arriscar o desfecho de tudo. Quem ganharia, ante o pessimismo geral, as cruciais eleições de outubro?

O voto em branco somado ao nulo.

As eleições terminariam empatadas entre os dois: 49.784.247.011 pra cada um. Cem milhões de desencantados com a política que impera hoje no Brasil. E é aí é que mora o perigo. Quando a Alemanha desistiu da democracia da República de Weymar, a tragédia chamada Adolf Hitler se instalou…

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