A Copa chega ao fim com a definitiva incorporação de uma torcida nova. A clássica ingenuidade feminina sobre os segredos do esporte bretão era uma dessas premissas que não conhecia antítese.

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O dramaturgo Nelson Rodrigues imortalizou a torcedora-padrão, a “grã-fina das narinas de cadáver”, que, virgem em futebol, perguntara ao vizinho de arquibancada, no seu primeiro dia de Maracanã:

– “Quem é a bola?”

Hoje, elas não só “conhecem” a redonda, mas também praticam o jogo, como a nossa Marta, muitas vezes eleita a melhor jogadora do mundo. E sabem como os jogadores tratam da “menina”, citando o saudoso mestre Armando Nogueira:

– No futebol, matar uma bola é um ato de amor.

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Ouvi, pasmo, uma torcedora enaltecer o poder de fogo da seleção da França, na finalíssima contra a Croácia, só na “bola parada”:

– “Les Bleus” podem bater no jeito, com o Pogba, o Griezmann ou o Mbappé. E na “pancada”, com os zagueiros Umtiti e Varane.  

E a Croácia, não fará gol de falta?

Se fizer, será um daqueles nomes de remédio. O Modrić, o Rakitić, o Rebić, o Perišić e o Mandzukić…

Lá se foi a última “reserva de mercado” dos marmanjos, que julgavam esta seara “inexpugnável”. Antigamente, era fácil sair com a “parceirada” para uma noitada proibida – e avisar à patroa:

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– Vou assistir a Seleção na casa do Pacheco!

Pronto. A companheira nem se candidatava a um aparte. “Vou junto!” Como, se ela bem sabia que o duelo de onze contra onze era território masculino?  Ele ia assistir a uma partida, e pronto. Era  “coisa lá deles, homens”.

 Hoje o tiro de meta sairia pela culatra:

– Mas que jogo é esse? O Campeonato Brasileiro tá em recesso! E a final é neste domingo, ao meio-dia!

Elas estão “ali”, marcando em cima, não mais “homem a homem”, mas “mulher ao homem”.

As senhoras e senhoritas chegaram ao planeta da Copa – mas para ficar. O primeiro sinal de que minha esposa já estava no Mundial, veio da cozinha. Um aventalzinho verde e amarelo, tendo a bola e uma “Matrioska” como motivo.

Mais abundante que esse comércio é o novo “conhecimento” feminino dos segredos do campo. Ainda ontem uma dona exibia essa nova sabedoria, ao me explicar:

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– Tem gente que ainda não sabe o que é  “linha de quatro” ou “linha móvel” – aquele trenzinho de zagueiros ou atacantes que se forma ali pela risca da grande área, na hora da cobrança de uma falta…

 

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