Nunca se viu país mais necessitado de mudanças. A reforma política, a tributária, a da Previdência. Mas, no Brasil, as mudanças não são feitas “para mudar”. Quando acontecem, elas servem apenas para camuflar a dura realidade.
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As lombadas em rodovias da Ilha, por exemplo. A exposição dos motoristas ao sol é ainda mais penosa por causa das lombadas, essa “corcova” que transforma o trânsito em “tartaruga” a caminho das praias.
Tenho um amigo inglês que é excêntrico o suficiente para enfrentar o verdadeiro “rally da lombada”, tudo por conta de uma cachacinha do Ribeirão da Ilha. O homem troca, placidamente, um Johnnie Walker 12 anos por um brandy nativo, como se este fosse a quintessência dos néctares.
Apresentado às nossas lombadas, o inglês associou esse nome àquela dança quase erótica que fez tanto sucesso no passado, a lambada – baseada num lascivo movimento dos quadris dos dançarinos, unidos e rebolantes.
Tive que explicar: nada a ver. A dança era a “lambada”. O obstáculo é a “lombada”, corcova de camelo erguida bem no meio da rua. Uma cilada contra o motorista. Um atentado à civilização.
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Infelizmente necessária num país que ignora olimpicamente as leis do trânsito.
O problema é que elas aparecem de repente no meio da rua, a tinta amarela de advertência já desbotada. Agora, quando o desavisado motorista as vê, o brutal solavanco é inevitável – coisa de “quinto mundo”.
Esse tipo de obstáculo existiu na Inglaterra atacada por Adolf Hitler. As lombadas existiam dentro de quartéis militares ou na esquina do War Cabinet, em Westminster, onde Churchill queimava pestanas e charutos, pensando em como deter o cabo austríaco.
O inglês não entende porque morrem tantos brasileiros nesta guerra do trânsito, apesar das lombadas. Não imagina que cada motorista dirige o seu tanque de guerra como se fosse um sargento da Panzer Divizionen, cumprindo a ordem de “atropelar o que lhe apareça pela frente”.
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Em tempos de paz, e segundo um debochado eufemismo ilhéu, lombadas são apenas “suaves redutores de velocidade em vias rápidas”, emboscadas que atendem pelo sugestivo apelido de “quebra-molas”.
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Eufemismo, aliás, é coisa bem brasileira, espécie de caridoso apelido que o Brasil empresta à sua dura realidade.
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