De quantos candidatos ao governo você já ouviu falar sobre segurança pública em seu Estado? Qual deles já ofereceu um plano coerente e plausível para combater o Estado paralelo do tráfico que, aos poucos, mina e deteriora as famílias?

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Segurança é o tema número um no Brasil. E matéria de interesse municipal. Não raro, contudo, prefeitos e vereadores acham que o assunto pertence apenas às secretarias de Segurança dos Estados ou à Secretaria Nacional da Presidência – instituições que não têm nada a ver com a cidade. Agora que se consumou a primeira intervenção federal pós-Constituição de 88, todos os Estados vão querer transferir a sua responsabilidade.

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Parece que a “peta”, mãe de todos os vícios, já venceu as eleições no Brasil. Os candidatos já não dizem “eu não minto” ou “eu só digo a verdade” Preferem dizer “eu minto menos”. Num país em que o verbo “roubar” ganhou semântica de coisa “comum”, “normal”, ou gradações meramente veniais, mentir é o pecado menor.

No Rio (et pour cause), meia centena de candidatos estarão registrados, apesar de responderem a processos. Só falta o goleiro Bruno se candidatar – e requerer o direito de ser votado na cadeia.

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O que espanta, mesmo, não é a facilidade com que  facínoras se candidatam. Afinal, o Brasil criou uma jurisprudência de impunidade inédita no planeta. O tal “trânsito em julgado” – que ameaça voltar -, empurra qualquer punição para as “calendas” neste paraíso de recursos, embargos e despachos interlocutórios.

O que espanta é o novelo legal que favorece a impunidade. As sentenças nunca chegam aos “finalmente” e ao “irrecorrível”. Um bandido pode recorrer a vida inteira – e, assim, candidatar-se até à Presidência.

A Ficha Limpa é uma esperança, mas já começa a ser desconstruída pelo juridiquês insensato, que acaba zelando pela prevalência do recurso infinito sobre o ideal de justiça. Se o amigo persegue o candidato “ideal”, arrisco um conselho:

– Vote só em quem você conhece desde criancinha.

Em eleições locais não aceite votar em desconhecidos. Gente que não tem a menor ideia da cidade em que vive ou da missão a qual deve se investir um verdadeiro candidato.

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– Na guerra, mentira como terra – diz o adágio bélico.

E nas campanhas, mentiras como  balas perdidas… – poderia completar algum eleitor-sobrevivente, entre aqueles que testemunham tiroteios nas “guerras não-declaradas” das cidades médias do Brasil.

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