“O que lembro, tenho” – escreveu, com imensa sabedoria, o “inventor” e re-descobridor da Língua Portuguesa, João Guimarães Rosa em “Grande Sertão, Veredas”.
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E o que disse sobre essas partículas de memórias o mestre de Stratford-On-Avon, Bill Shakespeare? Disse: “Louvar o que passou torna queridas e inesquecíveis até mesmo as coisas tolas da nossa infância”.
Uma fieira de lembranças simples e frívolas, mas “lembranças”, sai passeando pela memória dos viventes que já acumularam “mais de 60”. Seriam essas memórias as mesmas do leitor-manezinho, nascido e nutrido em Floripa? Já pegou o “Circular-Contra”, com o motorista Lira na boleia? Já trocou gibi na frente do Cine Roxy? Já usou na mão direita o anel do Fantasma Voador? Já rodou pião? Jogou bolinha de gude, iô-iô e bilboquê? Tomou groselha, Crush e Cola-Marte? Já usou papel higiênico Tico-Tico? E Glostora, Gumex e Emplastro Sabiá? Assistiu, na TV nascente, aos seriados “Bonanza” e “O Homem de Virgínia”? Correu as casas dançando a “cabra” do boi-de-mamão da rapaziada, distribuindo pinotes e chifradas?
Visitou o “Presépio Vivo” de São José? Andou no carrinho de cavalo do polonês Opuska? Brigou na “leiteria” da rua Esteves Júnior, anexa ao Colégio Catarinense, para defender a honra ultrajada (“nome de mãe”) ou simplesmente não fugir ao desafio de um “marmanjo?”
Usou japona, galocha ou calçados “Melodia”? Mexeu com o Curvina, a Barca Quatro e a Lídia Traça, malucos que reagiam contra os moleques que “inticavam”? Andou de carrinho rolimã ou desceu o gramado da ladeira do Hospital de Caridade na carona “côncava” de uma casca de bananeira? Colecionou estampas do sabonete Eucalol ou os indiozinhos do vidro de “Toddy”?
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Vibrou, de rosto colado, com a musa da festa, ao som de “All the Way”, “Love Me Tender”, “Unchained Melody” ou “Recuerdos de Ypacaraí”? Balançou-se ao embalo de “Rock Around the Clock”, com Bill Halley e seus cometas? Enterneceu-se ao som gingado de “Bernadine”, “Don’t Be Cruel” ou “Matilda”?
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Parabéns, companheiro, já avançado nos seus “enta”.
Hás de ter vivido a melhor Floripa de todos os tempos. Comprado balas de bengala no Empório Rosa, com seus vidros rotativos de balcão, balas rocôco e tabletes de gelatina açucarada.