Qual a química cerebral e cordial que transforma o brasileiro no ser mais alegre do planeta pelo “encantamento” carnavalesco?
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Os apressados adeptos da amargura e do preconceito de mais baixa extração logo respondem que é uma espécie de alienação. Não seriam alienados aqueles destituídos de renda, que vivem num país imerso em eterna crise econômica, política e moral – e, ainda assim, saem de casa para sambar e extravasar uma alegria que se formou apenas no seu hipotálamo?
O mundo está debruçado sobre este mistério: como se motiva o brasileiro pobre para curtir o Carnaval e descobrir uma coleção de alegrias, derramando-as pelo chão de confetes e serpentinas?
É assunto sério, que acaba de virar capa de revistas sérias, investigando esse espasmo de júbilo e de espírito lúdico que se espalham pelo assoalho das praças e das avenidas.
Se existisse um termômetro capaz de medir a felicidade dos países, a quantos graus andaria a felicidade do Brasil?
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Infelizmente a felicidade brasileira tende a se alinhar na segunda página dos cem países mais estáveis e civilizados do mundo. Um certo instituto chamado Population Crises International – que inaugurou um “medidor de felicidade” – situa o Brasil no nível 50 entre cem países, lançando um olhar sobre os vários indicadores de IDH, ou Índice de Desenvolvimento Humano, tendo por parâmetro um verdadeiro coquetel: analfabetismo, escolaridade, qualidade de ensino, saúde, nível de emprego, crescimento demográfico e – o nosso calcanhar de Aquiles: índice de homicídios por grupo de cem mil habitantes. Aqui, naufragamos…
Devemos ao heroico povo brasileiro a circunstância de sermos, segundo os parâmetros estudados, o “mais feliz entre os infelizes”. Não é à toa que saxões e europeus em geral se deslumbram com a “oie de vivre ainda existente sobre todas as mazelas que nos afligem aqui abaixo do Equador.
Que outro país sobreviveria a uma classe política tão alienada e ególatra? Que outro país demonstraria tamanho inconformismo matizado de humor, para rir de seus próprios estigmas?
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A felicidade de um povo passa, é claro, por eleições bem conduzidas e escolhas bem feitas.
Só haverá solidariedade numa comunhão de homens quando todos os que têm pensarem também nos destituídos. Ou quando a miséria do mais pobre a todos encher de vergonha.
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Sem esta felicidade, não haverá lugar para outras.