“Do que se fantasiam os desterrenses?”, perguntou o jornal “O Argos”, em 1884, no tempo em que o Carnaval engatinhava com o nome de “entrudo” .

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E informou:

– A gente fina dessas sociedades se fantasia de conde, príncipe e duque –  todas as figuras da nobreza – e também de mouros, pierrots e dominós.

Para tanto, faziam fantasias de seda, de veludo e de outros tecidos pesados e caros, enfeitando-as com lantejoulas, vidrilhos e outros adornos.

“Proliferavam cabeleiras, pretas ou brancas, lisas ou cacheadas. Bigodes e barbas postiços – e até calvas, igualmente falsas. Na rua da Constituição, nº 4 (a atual Felipe Schmidt), o barbeiro João Machado Coelho tinha esses ‘adereços’ à venda. Anunciavam-se chapéus, uniformes, dragonas e quepes (a fantasia de militar era permitida), cartolas e smokings. Mais modelos de mouros, cavaleiros e beduínos. A fantasia de dominó era a mais popular e a mais barata, sendo apenas uma longa batina, enfeitada”.

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Quanto aos pobres, eles saíam de sujo. Não tendo dinheiro para uma fantasia, arrumavam uma roupa qualquer. Vestiam-na do avesso, pintavam a cara ou arranjavam alguma máscara velha.

***

O Carná era todo regrado. E ai de quem contrariasse a rigidez da “lei”.

Uma certa Sociedade Carnaval Desterrense exagerou, no ano de 1861, como nos conta o historiador de “Nossa Senhora do Desterro –Memória e Notícia”, Oswaldo Cabral: “Tantas foram as regras que até os mascarados acabaram identificados nas ruas – mesmo os encapuzados!”

Nas noites de bailes, as regras eram rígidas, como a do artigo 8:

– No baile noturno haverá um sócio “reconhecedor”, a quem os senhores sócios que forem mascarados serão obrigados a se apresentar; com o fim de reconhecimento de identidade. Então, eles receberão um cartão de entrada para apresentá-lo ao porteiro, o qual lhe entregará uma senha, no caso de desejarem sair do recinto para alguma necessidade premente.

Para o cúmulo da  bizarrice, a mesma Sociedade pedia que os mascarados “não fossem identificados pelos foliões nas ruas”, em razão de “algum tique, hábito ou vício”. E que não tivessem seus nomes apontados ou proferidos “em voz alta”. E se explicava:

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– Não deixa de ser ridículo um mascarado que todo mundo sabe quem é. O folguedo perderia instantaneamente “a sua graça”.

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