Mar, no feminino

Quando dizem que o mar não serve como veículo de locomoção do homem no entorno dessa Ilha que se chamou “dos Patos” e “Y-Jurerê-Mirim”, antes que Caboto lhe desse o nome de “Santa” — numa homenagem também à própria mulher —  a “sentença” ganha o som das coisas irreais.

O mar é a “estrada” que sempre esteve pronta, o hóspede imemorial de remotas embarcações fenícias — com suas carrancas de espantar espíritos — ou de Vikings, com seus belicosos chapéus de chifres, ou das expedições portuguesas que alargaram as esquinas do mundo.

Tão querido é o mar por seus passageiros intemporais que a língua de Castela o transformou, carinhosamente, num substantivo feminino: “La Mar”…

Tão querida era “la mar” entre os que freqüentavam as baías da Ilha de Santa Catarina, centenas de barcos, vapores e “brigues”, como se vê nas telas de Eduardo Dias, que sua lembrança tem o aroma de uma nostálgica maresia.

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Os antigos romantizam o tempo passado e colecionam saudades até do que era um “bom suplício”. De um velhinho que se valeu do serviço de lanchas da travessia Ilha-Continente, nos primórdios do século 20, ouvi, certa vez, murmúrios de uma “saudade” idealizada:

— Era bom e era romântico atravessar a baía a bordo das lanchas num final de tarde estival, o sol se pondo por trás da Serra do Mar…

Foi “ontem”, lá pelos anos 1940, que navios de carga e “passageiros”, de médio porte, como o Carl Hoepcke, atracavam nos trapiches da Florestal, no Continente, ou da Rita Maria, na Ilha. O canal, embora de modesto calado, permitia a aproximação dos vapores, quase à beira da terra-mãe.

Por que será que, de repente, Florianópolis deixou de ser um porto regular e apreciado, como revelam as pinturas dos nossos melhores artistas?

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Talvez se encontre a insensata resposta num país com 8 mil quilômetros de costa, que insiste em transportar suas cargas por terra, ao lombo de poluentes e predatórios cavalos de roda.

O que haverá de tão diferente no mar que beira Hong-Kong, San Francisco da Califórnia, Miami, Nova York, Salvador, Rio de Janeiro e aquele que acaricia a mais bela das ilhas dos mares do Sul?

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