Parece haver um vácuo de poder num país à matroca. Sente-se na atmosfera a sinistra sensação de que não há mais governo de plantão e que Bakunin, o anarquista, dá as cartas e joga de mão.
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Pior: virou moda roubar de pobre. É prefeito furtando merenda de criancinha; político assaltando os velhinhos dos consignados; administradores desviando dinheiro de hospital e de posto de saúde.
E não faltam folhas de pagamento infladas de “extras”, auxílios para isso e aquilo, dignitários ganhando uma fábula, com o poder de mandar pagar a si próprios.
O mesmo vale para aqueles funcionários públicos – a maioria é honesta, claro, e a esses rendo minhas homenagens – que costumam “misturar as estações”. Tomam o público por privado, abusam de suas mãos leves, locupletam-se.
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Certos agentes públicos adoram enamorar-se do alheio; ter manhas de raposa para ficar com o que não é seu; cultivar certa dificuldade para distinguir o que é “meu” e o que é “teu” – ou pior ainda: o que é da Viúva, essa indefesa mulher sempre assaltada.
O dialeto Mané descreve esse amor pelo alheio com uma boa dose de imaginação matizada de humor:
– Ter “cola” nos dedos; “tirá” alpiste de passarinho; “botá” a mão no baleiro; “alcançá” a carteira do tanso…
Do público surrupia-se com destreza e silêncio. É que roubar de um sujeito particular ou de uma corporação privada, dá muito mais trabalho e gritaria.
Raros são os que defendem a “Viúva”. Em seu recatado luto, esta senhora sofre o assédio constante dos que adoram inventar uma “rubrica” nova para enfeitar contracheques: são os engenhosos criadores dos “auxílios-paletó”, “moradia”, “alimentação” e outros tantos “incentivos”.
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Para definir bem esses agentes da “mão leve”, teríamos que recorrer ao relicário das melhores letras da Música Popular Brasileira:
“Você me chamou para esse pagode – e me avisou:
Aqui não tem pobre”…
Começa assim o tratado popular que melhor define o momento vivido pelo país e protagonizado pelos “representantes do povo”. O refrão resume tudo, assinado pelo “cientista político” Bezerra da Silva:
– Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!