O Brasil nunca precisou tanto de livros, especialmente nestes tempos obscuros, em que “vale o que não está escrito”. 

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O livro, como o conhecemos – um caderno organizado de páginas de papel, empilhadas de forma sucessiva e crescente – é um artefato de meados do século 15, balizado pela Bíblia de Gutemberg, impressa na cidade alemã de Mainz, em 1450. Terá, portanto, 568 anos.

No Brasil, o livro só foi conhecer uma biblioteca digna desse nome com a chegada da família real portuguesa, fugida de Napoleão, em 1808. Na verdade, a “Biblioteca do Rei” só chegou ao Brasil dois anos depois, em janeiro de 1810.

D. João VI não era exatamente um rei “intelectual”, como seu neto D. Pedro II. D. João fazia o gênero glutão, dava o seu reino por uma galinha assada, que estraçalhava inteira, dizem, “comendo com as mãos”.

Se leu algum livro, talvez tenha sido sobre como evitar a flatulência pós-ingestão pantagruélica, o canto da boca escorrendo azeite, o babeiro manchado de borrões de gordura.

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Livro, não era com ele. A não ser, quem sabe, um livro sobre receitas culinárias. Ou um manual sobre a boa mastigação, de sorte que a asa de galinha não lhe fosse atravancar a epiglote. O popular “descer pelo goto”…

Não se pode, porém, ignorar a circunstância de que o livro ganhou um novo “status” no Brasil elevado à categoria de Reino Unido. Organizou-se a Biblioteca Real e o Gabinete Português de Leitura. Os exemplares que enriqueciam as prateleiras à beira-Tejo singraram o Atlântico e vieram ilustrar as estantes pouco arejadas (e úmidas) dos trópicos.

Parafraseando Vinicius de Moraes, que elegeu o uísque como um sucedâneo do cachorro na categoria “melhor amigo do homem”, sustento que o livro também pode concorrer com esse amigão:

— O livro é o verdadeiro cachorro encadernado.

 

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Falando-se em livros: Santa Catarina ganha hoje um presente do colega e autor de quase uma centena deles, o jornalista e escritor Moacir Pereira“Rodrigo de Haro: Um poeta humanista”, a ser lançado a partir das 19h, no CIC, é a biografia autorizada de um dos mais admirados intelectuais catarinenses – talento multifacetado, um mestre da árvore dos De Haro, pintores, desenhistas e muralistas. E um poeta de densa e humanística cultura literária. Martinho, o patriarca, e Rodrigo, mestre da pena e do pincel, honram as artes catarinenses.

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Trata-se de um régio presente à cultura de Santa Catarina.

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