O ilhéu, assim como todo o povo brasileiro, cedo se acostumou a pagar o quinto, o dízimo, a parte de César – chame-se “César” de Visconde de Barbacena, Marquês do Pombal, Temer ou Loureiro.

Continua depois da publicidade

O IPTU engorda todo mês de fevereiro a uma taxa sempre superior ao IPCA. Já notou o leitor como os governantes gostam de elevar os impostos sempre acima da inflação? O único interesse que não é consultado é o do pagador. Aquele coitadinho que, um dia, na cabine eleitoral, imaginou estar bem protegido ao passar uma procuração ao presidente, ao governador, ao prefeito.

Os impostos chegaram ao Brasil com as  caravelas, os selos, as taxas, os emolumentos e as obrigações reinóis – tudo compondo uma imensa carga fiscal, infligida aos súditos de uma Monarquia tão cartorária quanto a portuguesa.

Próximo dos 38% do PIB, o volume de impostos sugados do brasileiro já beira os US$ 400 bilhões – algo como R$ 1,6 trilhão –  “tesouro” este retribuído em “magníficos” serviços, ótima assistência médica e previdenciária, excelente base educacional e impecável segurança, com direito a “apagões” periódicos e assassinatos em série…

Mas até mesmo a Metrópole hoje se constrangeria em admitir que, entre 1790 e 1795, criou “impostos” especialmente dirigidos à vila do Desterro, “para ajudar na reconstrução de Lisboa”, arrasada por um terremoto em 1755. É como registra mestre Oswaldo Cabral, em sua nunca assaz elogiada “Notícia de Nossa Senhora do Desterro”: 

Continua depois da publicidade

– Colaborar com Lisboa equivalia a, nada mais, nada menos, do que retirar o couro de quem já perdera a camisa…

A mesma autoridade que comunicou o “imposto para Lisboa”, o vice-rei, Conde de Resende, não satisfeito com a “arrecadação”, mandou à Câmara da vila uma pesada crítica ao povo desterrense, exatas 3.757 almas:

– Parece-me útil dizer a “vosmicês” que, sendo de sua obrigação cuidarem do bem comum e da utilidade desse povo, não o perca de vista para o apartar do ócio em que vive, obrigando-o, ao menos, à plantação dos mantimentos de sua subsistência.

***

Além de colocar a mão no bolso dos ilhéus, o vice-rei – certamente um “trabalhador” – ainda chamava o povo desterrense de  “vadio”. E o mandava plantar mais batatas.

Continua depois da publicidade

Sábio, o nativo não teve medo de perder o pescoço, como Tiradentes. E boicotou o “quinto” de Lisboa, guardando os seus parcos caraminguás.

Leia outras crônicas: 

O político eterno 

Cenas para colorir