Tudo começou em julho de 1958, quando acabou o jogo Brasil 5 a 2 Suécia. Nelson Rodrigues, o perscrutador da alma brasileira, pescou das águas plácidas um inédito otimismo:
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– Cada brasileiro se sentiu compensado, desagravado de velhas fomes e santas humilhações. Na rua, a cara dos que passavam parecia dizer: “Eu não sou um vira-lata!”
Em 1962 e 1970, a mesma coisa. De repente, sentimos que o brasileiro deixara de ser um vira-lata entre os homens e um vira-latas entre as nações.
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Talvez seja o que nos falte como nação. Imitar a torcida, com um tostão de otimismo. Reagir aos desafios da cidadania com a mesma criatividade, o mesmo destemor, a mesma crença no futuro – não só no futuro da Seleção, mas no do país.
Stephen Zweig, o contista e romancista austríaco, perseguido pelo Nazismo, vislumbrara em Petrópolis, antes de se matar no Carnaval de 1942, um Brasil “País do Futuro”, ao contrário do deprimido Claude Lévi-Strauss, o antropólogo que só enxergou baixos relevos nestes “Tristes Trópicos”.
Hoje, todos os europeus revelam uma formidável surpresa ao constatar como um povo tão sofrido e desvalido – órfão de classes dirigentes minimamente honestas – pode, às vezes, exibir índices de “satisfação” e até de “felicidade”, compatíveis com as pequenas coisas da vida.
Proprietário de uma riquíssima música popular, das mais bem-sucedidas em todo o mundo, o Brasil já não se resigna mais com os seus “Waterloos” internos, os seus escândalos e as suas mazelas.
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Num evento globalizado como a Copa do Mundo, lá estão os brasileiros e a sua inexplicável – porque inata – alegria, ajudando a erguer cordilheiras de bom humor em outros povos de temperamento embutido.
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Uma roda de samba em Sochi, Moscou ou São Petersburgo, faz mais pela imagem do país do que políticos “leiloando” minutos e segundos na feira livre do “Horário Eleitoral Gratuito”.
Tanto sucesso tem feito nossa torcida no futebol ou no vôlei que, apesar de todas as tristezas produzidas pelos nossos “cartolas”, não seria inadequado propor ao Czar Vladimir Putin a inclusão desse temperamento “flamboyant” à nossa nova pauta de exportações.
Até os russos já sabem que a festa será bem mais animada se o Brasil for Hexa.
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