Pinhão é como amendoim. Ou pipoca. Não dá pra comer só um. Come-se em quantidades industriais, tenha sido feito na panela ou na chapa.
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Incrível que ainda haja regiões neste Brasil que não tenham sido apresentadas à semente da araucária. Fora do Sul, ninguém sabe direito o que é. Pinhão, “é uma planta, uma semente, uma raiz”?
Quando criança, fui apresentado a um destes artefatos irresistíveis pela nossa empregada, a dona Rosa. Ela acabara de fazer um panelão fumegante, o pinhão aparecia “espiando”, a carinha explodindo sob a casca.
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Aí, dona Rosa brincava:
— Não pode morder a casca, gurizada. O pinhão tem “alma”, como a gente. Mordido, perde a alma.
Descascava com as mãos, cuidadosamente, com método e esforço. Com o pinhão inteiro na mão, abria-o ao meio, com uma faca. E mostrava a tripinha branca, geometricamente situada no meio da iguaria. Tentava nos sensibilizar:
— É a “alma” dele, crianças!
Com alma ou sem alma, comíamos tudo e ainda pedíamos mais.
— E se a gente come a alma, “ele” não vai mais pro céu?
Aí, ela já não sabia. Aliás, no começo, dona Rosa não sabia nada de pinhão. Era do interior da Ilha e a semente da araucária lhe fora apresentada por um devoto lageano: meu pai. Antes de conhecer a pinha, ela até já havia levado um susto:
— Pensei que era um rojão que a molecada tinha jogado na cozinha…
Pois a “alma”, a tal tripinha, nada mais é do que o seu sêmen. O pessoal, então, ingere o endosperma do pinhão?
Convém não insistir muito nesses detalhes que a turma da Serra é gente macanuda, tudo índio macho, tiarajus valentes — ninguém vai gostar muito de saber que vive engolindo o “gozo” do pinhão…
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Com novas e sofisticadas formas de saboreá-lo, o pinhão, hoje um símbolo com direito à festa lageana, incorporou-se ao preparo dos mais prodigiosos pratos, que vão dos aperitivos às sobremesas.
Ele só é uma “granada”calórica pra quem já é gordo. Conhecendo-o, impossível recusá-lo. Mas “morrer de pinhão”, desconfio, não seria nenhum desconforto — ou desprazer.