Ainda não é o frio que traz a neve, mas a atmosfera já é convidativa. Naquele agosto de 2013, lembram-se? Nevou até em Floripa, bem nos ombros do Cambirela.
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De repente, Santa Catarina volta a ocupar o “horário do frio na tevê”, com a visão de sua porção européia, sua paisagem alpina, suas árvores tingidas de branco, o espetáculo da neve transformando turistas em crianças, todos desempenhando o lúdico exercício de fabricar bolas de neve para “atirar” ou para formar o “nariz” de um boneco.
Os hotéis de São Joaquim amanhecem lotados, e os de Lages ficam de stand-by, pegando uma caroninha no frio. O turista nem exige muito, basta um quartinho aquecido e uma modesta fogueira para aquecer os ossos, “lareiras” improvisadas com nó de araucária.
Com o “friozim” amigo, desfilamos em nossas telinhas com os casacos, pulôveres e agasalhos de pele sintética – para que se cumpra a Bíblia ecológica – e caprichamos em nossas poses de Doutor Jivago e Lara, criaturas que se amaram nos invernos nevados da Rússia de Bóris Pasternak.
Onde haja um facho de luz, um rasgo de sol, lá estarão os homens e as lagartixas. E naquelas esquinas onde bate o sol, os homens se permitem menos rigor nas indumentárias, desprezando o poncho, ou, à noite, o pelego. Há várias gradações de frio, entre eles o “siberiano” – do qual já escapamos – ficando com o frio mais ameno, que convida a um vinho tinto e deixa as faces das moças afogueadas.
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O solzinho fraco alumia as esquinas e, mesmo anêmico, alcança ao longe o perfil das montanhas, cujo púbis revela, entre “calcinhas” de nuvens.
***
Ah, meu reino por uma lagarteada ao sol, só pra aquecer os ossos, evitando que a friáz transpasse minha espinha, como uma eólica adaga.
Meu reino por noites estreladíssimas, saudadas por uma taça de vinho cor de rubi.
Meu reino por um último lance de tainhas – tardio, embora – nestas noites frias do luar de agosto. Ainda bem que as neves, ou este querido solzinho de inverno, não estão sujeitos a uma “emenda constitucional” ou à Comissão de Orçamento do Congresso.
Deixo, aqui, ao sol, o meu caloroso abraço, com o qual agasalho a expectativa de um Brasil mais solidário e mais aquecido para as mudanças de outubro.
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