O mercado de votos ganhou no Brasil, sob o império da infidelidade partidária, um pregão que é ao mesmo tempo uma aberração e um aleijão: a “Chapa Frankenstein”. Tornou-se cada vez mais comum um candidato pedir voto sob o guarda-chuva do partido que era seu “inimigo” há apenas 10 minutos. E todos esses “infiéis” exercem sua volubilidade com total ausência de vergonha. Trair e coçar…

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Sob a benção da traição, tratam-se em público de interesses privados. E as instituições brasileiras vão se esfarinhando como dunas na ventania.

Não existem mais, na Câmara ou no Senado, maiorias capazes de dar um governo ao país. Sem voto para aprovar matérias de interesse do Brasil, o governo simplesmente obstrui-se a si mesmo. Evita votar, garroteando a essencial função parlamentar, sem a qual não há democracia. Já a Oposição quer votar, mas por outras razões: luta para estilhaçar e inviabilizar o “inimigo”, votando aberrações fiscais.

Alguma novidade? Sim. Instala-se nessa câmara de horrores em que se está transformando o Brasil, a cada vez mais dramática “fulanização” das instituições políticas. Não há mais partidos. Há o “Lula”,  “o Bolsonaro”, “o Alckmin”, “o poste do Lula”, “o Ciro”… E assim por diante. As pessoas. Muitas vezes pessoas pequenas – “pessoinhas” – colocam suas enfermas ambições acima das instituições.

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Não é mais incomum o candidato do partido Y se instalar momentaneamente no partido X, só para garantir a vaga de deputado para o filho, o genro, o neto. Candidaturas virtuais são alavancadas com aqueles aperitivos eleitorais, pequenos clipes, que lançam um candidato a governador – só de “mentirinha”.  Tudo para montar, mais adiante, uma “Chapa Frankenstein”. E a opinião pública (“são todos uns burros”…), ó, que se exploda!

A montagem de uma chapa “competitiva” nos dias de hoje – a cabeça de um partido, o coração de outro, os membros de um terceiro e de um quarto – é uma réplica quase perfeita daquele “projeto humano” construído com partes de outros cadáveres. O Frankenstein da escritora inglesa Mary Shelley – a autora de “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”

Aliás, a brilhante Shelley jamais imaginaria que sua criatura mais famosa seria tão popular e tão bem votada no Brasil, quase dois séculos depois de tê-la criado.

 

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