Desencantado com o rol de candidatos à sua disposição, o eleitor de Floripa resolveu emigrar para o planeta Marte, na expectativa de lá ser bem recebido por um morador ilustre, o conterrâneo Mayer Filho, surrealista que pintava galos.
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Além da tristeza de ter experimentado prefeitos e governadores medíocres, Floripa acabou vítima de uma doença mundial: o engarrafamento urbano.
Tudo começou com um engarrafamento-monstro no “rond-point” do Arco do Triunfo, em Paris, continuou pela Oxford Street, em Londres, Quinta Avenida, em Nova York e Prospekt Kalinine, em São Petersburgo.
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Houve uma explosão mundial de neurastenia que alcançou o seu clímax na SC-401, caminho das praias, em Floripa – onde, no verão de 2021, nasceram trigêmeos ao frigir do sol do meio-dia.
Cansado de ver negado o mais essencial dos seus direitos humanos – o de ir e vir –, o homem tratou de lançar colonizações à Lua e Marte, onde os governos humanos se instalaram após intergaláctica campanha – nem por isso infensa às baixarias, como sempre acontece nessas lutas pelo poder.
O primeiro ônibus espacial de imigrantes a chegar à atmosfera do planeta encarnado foi o de um grupo pioneiro de Floripa, cansado de sucessivos desgovernos. Tiveram que retornar da alfândega marciana, que se recusava a carimbar vistos de permanência para brasileiros.
Vencida essa xenofobia cósmica, graças ao florianopolitano Mayer Filho, que há anos reside no planeta vermelho e lá goza de sólido prestígio artístico e moral, os catarinenses passaram a ser bem-vindos naquela esquina da galáxia.
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O homem vindo da Terra tornou-se uma espécie quase imortal em 2040, em sua nova colônia marciana. Sem o “stress” dos engarrafamentos, ninguém envelhecia.
O problema é que a população da Terra já alcançava 12 bilhões de pessoas e todo mundo queria ir para Marte, assim como, no começo do século XXI, todos queriam morar na Ilha de Santa Catarina.