Sem a recuperação do Ipuf como dínamo pensador da prospecção do seu futuro, Floripa seguirá sendo vítima de administrações comprometidas com a mediocridade, com as portas fechadas ao bom planejamento. Em duas gerações, de 1960 a 1990, a cidade cresceu a um ritmo de quase 5% ao ano. Em 1960, a cidade contava com uma população de dois dígitos de milhar: 98.590 habitantes. Hoje, só na Ilha temos meio milhão. Se contarmos a Grande Floripa, quase um milhão.
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Todo mundo se conhecia naquela Floripa da primeira metade do século 20 . Todas as casas tinham quintais, mesmo no centro da cidade. As crianças conheciam um peru, uma galinha, bichos que hoje só conhecem prensados e congelados nas gôndolas dos supermercados.
Há 50 anos a “aldeia” ainda podia dormir de janela aberta. Hoje, a segurança pública se transformou em filme de terror e já não somos uma cidade que desfrute de sossego. Vive-se “sobre rodas e sustos”, num labirinto sem mobilidade.
Apesar de tudo, morar em Floripa virou um sonho de consumo. Não conheço brasileiro de bom gosto que não ame Floripa, que não persiga a Ilha nos seus verões abrasivos ou na amenidade do seu outono, querendo testemunhar os mais belos “ocasos” do planeta – e, por tabela, ouvir os “casos raros” da ilha formosa. Seria o caso de se parodiar o samba famoso e versejar:
– Quem não ama Floripa/ Bom sujeito não é/ Ou é ruim da cabeça, ou doente do pé…
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Aquela, contudo, era uma época que se dava ao luxo provinciano de ignorar a administração pública como ciência. Ser prefeito era pagar a folha, recolher o lixo e comparecer, de smoking, ao Baile Municipal. Hoje, com uma região metropolitana densamente povoada, de complexidade geográfica única, espremida entre o mar e a montanha, Floripa já não concebe administrações amadoras.
Toda vontade política e competência técnica, consolidadas num Ipuf em processo de reconstrução, serão necessárias para uma cidade vítima de esclerose múltipla, obstruída por armadilhas e labirintos.
Faltam recursos até para pequenas obras de reparo, como a regeneração dos abrigos de ônibus danificados. Para devolver esse guarda-chuva ao munícipe, a prefeitura aguarda a liberação de uma verbinha do Ministério da Integração Nacional.
Se os usuários dos coletivos estão “sem teto”, a culpa é de Brasília.