Com seu estilo miscelânico, um pouco anárquico, um pouco Art Noveau, quase sempre pintado de marrom escuro, o Hotel La Porta era uma espécie de Copacabana Palace de Florianópolis, entre os anos de 1931 e 1960.
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O prédio sugeria um estabelecimento livre em Casablanca, no Marrocos ocupado, em cujo bar poderia irromper, a qualquer momento, o canto da Marseillaise, puxado por Victor Lazlo, o herói da resistência.
Enquanto isso, encontros furtivos entre Ilse (Ingrid Bergman) e Rick (Humphrey Bogart) estariam acontecendo em algum apartamento do segundo andar, voltado para o Miramar e o sol poente, onde sangraria um daqueles ocasos raros e inesquecíveis.
O La Porta, os trapiches, o Mercado Público ao fundo. Desse cenário, só a última construção sobrevive. O velho hotel, que deveria ser incorporado à memória da cidade, virou agência da Caixa Econômica Federal, antes de ser canibalizado, a pretexto de uma reforma, que logo acabou em implosão.
Datam da demolição do velho hotel – em meados dos anos 1970 – as transformações que fizeram de Floripa um novelo inextrincável, que não se pode deslindar. Um labirinto, com Minotauro e tudo.
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Grande sucesso no CIC em shows de tangos, há alguns anos, “Niña de Oro y Luz” nunca mais foi entoada em público, merecendo um “revival” e um reconhecimento da cultura local.
O belo tango, composto em homenagem a Florianópolis pelo uruguaio Pierino Codevilla, no ano de 1945, com letra do argentino Horácio Ferrer, teria tudo para ser um “Rancho do Amor à Ilha” castelhano, funcionando como grande chamariz de turistas de língua espalhola.
Ancorando seu iate para reparos em Floripa em 1945, Pierino Codevilla encantou-se com a Ilha/Capital e as ilhotas em seu entorno. Sua escala técnica, para reparos e reabastecimento, deveria durar poucos dias. Mas sua âncora aqui permaneceu por meses, fundeada em seu coração lírico.
O resultado foi o tango “Florianópolis”, redescoberto 54 anos depois, em 1999, pelo empresário Augusto Gonzaga. Ressurgiu nas gavetas de seu pai, Armando – a quem Codevilla dedicara sua criação musical.
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Ter um tango imortal em sua homenagem consolida o prestígio cosmopolita de que desfruta a Ilha, cujo patrimônio cultural nem sempre é bem cultivado e divulgado.