O trabalho enobrece o homem, está certo, mas o que lhe dá sombra e refrigério é um feriadão. Se São Pedro ajudar, celebraremos com uma palmeira sobre a nossa cabeça e areia fina debaixo dos nossos pés. Os sentidos logo estarão amortecidos pela sequência de festas, espécie de maratona da comilança e da libação.

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Esta espinha que heroicamente ainda sustenta minha sofrida carcaça já adquiriu a forma convexa – arqueada como a coluna do corcunda de Notre Dame. Sinal de que o seu dono começa a soçobrar, afogado em brahmas e em brumas.

Sinto as juntas anestesiadas, as dobradiças enferrujadas, a preguiça estalando em cada osso, em cada fibra. Feriadão é isso: fazer qualquer coisa para não fazer nada. O principal esforço é para não fazer esforço, sequer o mental, embora manter a cabeça vazia requeira uma grande concentração.

Neste feriadão removi meu pensamento para alguma alva duna da Lagoa, da Mole ou da Brava. E minha inspiração – se é que algum dia a tive – escorre entre as colunas d’água que se derramam da arrebentação, até se desfazerem em debruns molhados na areia.

Deitado à sombra fresca dessa minha palmeira imaginária, proponho aos prezados leitores a constituição de um “Grupo de Trabalho” destinado a estudar o melhor aproveitamento dos feriadões. Pois é. A primeira missão desse “estudo dos feriadões” será ensinar as pessoas a não serem pessimistas. Ou rabugentas, como foi aquele folclórico cronista mundano, Ibrahim Sued. Flagelado pela falta de assunto, Sued repetia o bordão: “Brasil, país dos feriados!” Ora, não há país do mundo que não cultive o seu ócio. Para parecer “trabalhador”, o Brasil escamoteava seus feriados – até inventou o “ponto facultativo” – e sentia uma certa vergonha de trocar aquela plaquinha que a gente vê nos filmes, de open (aberto) para closed (fechado).

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Depois do filósofo Ibrahim, que criava constrangimentos para a saudável “mandriagem”, o país experimentou o encolhimento do calendário gregoriano de feriados. Até o Vaticano conspirou contra, “cassando” o feriado religioso de Santa Catarina de Alexandria e retirando o dia 25 de novembro do calendário comemorativo.

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Na falta do que fazer – e do que pensar – aproveito este começo de feriadão para lançar a campanha pela reabilitação da nossa padroeira. Onde já se viu encolher nosso calendário de folgas, com direito ao dolce far niente?

 

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