Com esse “friozim” brabo, os viventes se transformam em fumantes involuntários, o halo da respiração transformado em vapor, diferença entre o natural aquecedor do corpo humano e o frio exterior.
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Um minuano varre os contrafortes da Serra, seu gemido é o clarim que anuncia a neve. Há que haver a conjugação perfeita dos elementos para que se produza aquele tão esperado cristal branquinho chamado “neve”.
São necessários um céu nublado, uma friagem de pelo menos dois graus centígrados e o congelamento do vapor d’água suspenso na atmosfera.
O pessoal da Serra fica espreitando o céu, cheirando o ar, como perdigueiros da neve. Desovam os ponchos dos armários, dobram as calorias dos frescais, mantém aquecidos os “tarros”, vasos onde se guarda o leite depois da ordenha.
A família se reúne em torno do grande fogão da cozinha, dotado de “boca” tão grande que se transforma numa improvisada lareira _ a queimar nó de pinho. Quem tiver a sorte de estar por lá, nas nossas “Suíças”, que se prepare para ganhar adiposidades, vestir um “pulôver” estomacal. Uma ovelhinha, aqui; um borrego mamão, ali; uma costela pingando no fogo de chão. E até bizarrias como o “caracu”, tutano medular retirado da canela ou do joelho do boi.
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É a turma se forrando para suportar a “friáz”, à espera do grande acontecimento. Se “ela” chegar, a paisagem tornar-se-á alva como o marfim, os telhados em V invertido ganharão almofadas brancas
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Num cenário de “capa” de chocolate suíço, do alto do Morro da Igreja se divisa as escarpas da Serra, a cobra coleante do Rio do Rastro, entalhando degraus na rocha. E as araucárias são coroadas por tiaras nevadas, flocos que se equilibram nas “orelhas” dos galhos abertos.
À semelhança de um gorro branco e perene, a neve “agasalha” o cocoruto dos morros, debrua as estradas, pinta as calçadas, amontoa-se diante das portas, convida as crianças ao esporte mais divertido do ano: construir um boneco e decretar “guerra” aos moleques da vizinhança.
Sou um litorâneo prestes a me divorciar das tainhas e de me amancebar com as araucárias, as pinhas e os frescais.
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Aproveito essa “vigília” de esperar o frio para mandar daqui o meu abraço aos meus amigos daquelas querências. Ponham a carne no fogo!