Numa guerra, a primeira baixa é a verdade. Foi o velho Churchill quem admitiu, publicamente, o assassínio da verdade em benefício dos segredos que ao Estado interessa preservar.

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– Em tempo de guerra, a verdade é tão preciosa que deve ser protegida por uma salvaguarda de mentiras.

Proteger a mentira. Nós, simples cidadãos, sabemos perfeitamente que há no mundo certos governos que não se preocupam com outra coisa. E que adotam a mentira como uma espécie de verdade oficial.

Na ficção – mas também na realidade da Casa Branca de Trump– já houve funcionários públicos encarregados de dar um novo “vestido” à mentira. Na Literatura, foi o caso de Winston Smith, o anti-herói de “1984”, o romance de George Orwell – ao mesmo tempo um libelo e um alerta universal contra os regimes liberticidas. A tarefa de Winston no seu emprego público era a de “reescrever a História”, adaptando-a à necessidade do “Grande Irmão”.

No romance de Orwell, o funcionário Winston vive reescrevendo os números. O Ministério da Fartura, por exemplo, trouxera a público a promessa de que não haveria corte na ração de chocolate. Na verdade, como sabia Winston, a ração de chocolate deveria ser reduzida de 30 a 25 gramas naquela semana. Em seu também admirável “A Caça ao Elefante”, Orwell assim definiu os códigos do politiquês (e do economês de Estado), com seus enigmas e seus cifrados:

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– A linguagem política é destinada a fazer com que as mentiras pareçam verdades, o assassínio ganhe respeitabilidade e o mero vento receba uma aparência de solidez.

Celebra-se, em Santa Catarina, a estatística que aponta uma queda nos números absolutos de homicídios. Na verdade, não há muito o que celebrar. O sistema penal do Estado está contaminado pela sinistra realidade do crime operando dentro dos presídios. A “Central” da bandidagem trabalha a plena carga, com um sistema de comunicação que funciona à perfeição.

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Comemorar a inoperância é como abrir uma taça de champanhe para festejar: “Entre os piores, estamos menos mal”.

Há Winstons, funcionários de “confiança”, reescrevendo as más notícias. Assim como há Winstons no supermercado, na feira, no Ministério da Fazenda ou no anúncio da renda per capita – e onde quer que haja um número a ser cotejado. A democracia existe exatamente para isso: evitar que a mentira se torne uma política de Estado. A mentira ganhou nos dias de hoje um novo nome e sobrenome. Agora é conhecida como “a pós-verdade”.

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