Nunca se viu tanta patente militar assumindo postos civis – diga-se, todos com uma carteirinha de “eleito” nas mãos. Temos um major-senador, um coronel-governador em Rondônia, o nosso comandante Moisés e um batalhão de generais de carona no “capitão”.

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Houve época em que tantos botões dourados assustavam a cidadania, principalmente durante as erupções da ditadura militar, em que o “poder instituinte” se colocava acima do poder da constituição. O AI-5, por exemplo, revogou a Constituição da época (de 1967) com um único artigo: “Ficam excluídas de quaisquer apreciação judicial as leis emanadas deste ato institucional, revogadas as disposições em contrário”.

Cinquenta anos depois, os eleitores reabilitaram os fardados, diante da constatação de que os “paisanos” perderam a credibilidade, embora as generalizações sejam evidentemente injustas. Saberão os “comandantes” lidar com a crise galopante da intolerância que flutua pelos ares, do mau humor geral da nação e da nunca tão necessária habilidade de administrar a escassez? O diagnóstico é até fácil, qualquer economista de esquina conhece: déficit fiscal, orçamento engessado, queda da arrecadação, infraestrutura arrasada, desemprego elevado, educação básica em desintegração. Pior: capacidade de investimento zero.

O país começa a acordar do longo sono em que “dormiu” e viveu o sonho dos “espertos”. O colapso fiscal e a captura do Estado pela corrupção e por grupos de interesse corporativo, entre os quais carreiras públicas que se aposentaram com altíssimos privilégios e super salários. Claro, todos alegam o direito adquirido, principio universal do direito que deve ser respeitado, embora a “conta” insista em não fechar, para “paisanos” ou fardados.

O diálogo de surdos já começou. O país sabe que, ou reforma a Previdência como ela está, ou em cinco anos não terá mais recursos para pagar até mesmo as aposentadorias de salário mínimo. O que resultaria em cruel facada na barriga dos brasileiros menos assistidos pelo Estado-pai.

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Hoje, nem precisamos de governador, mas de um contador ou síndico: as despesas estão todas amarradas no custeio. Governar é pagar a folha.

Desejo aos novos governantes, civis ou militares, uma gestão transformadora, se isto for possível – e não se transformar numa “indigestão”.

 

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