Pouco depois do primeiro quartel do século 19, em 1838, uma grande confusão se instalou no centro de Desterro. Teve início uma campanha para a remoção das barraquinhas ancoradas junto à praia, no sopé da Praça da Matriz, atual Praça XV, no tempo em que esse largo se prestava ao comércio de carnes, verduras, aves e animais.
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O historiador Oswaldo Cabral fotografou em sua Memória o nascimento daqueles “Contra”:
– Já naquele tempo havia os zelosos defensores do patrimônio nacional, que tinham sempre ao alcance uma disposição, uma lei, uma portaria, um alvará, uma tradição, um empecilho qualquer, que contrariava todo projeto de modernização da malfadada vila.
Em 1845, o presidente da Província, Antero de Brito, conseguiu remover aquela favela horizontal por um “nobre” motivo. Preservar o olfato imperial de D. Pedro II, que anunciava sua primeira visita a Desterro, acompanhado da imperatriz Tereza Cristina. Mal transcorrida a visita real, voltaram os barraqueiros a postular a praça da Matriz como seu endereço comercial, enquanto organizavam a resistência contra a construção de um Mercado Público dividido em compartimentos e bem asseado.
Nasciam, assim, os primeiros partidos “espontâneos”, os Pombeiros contra os Mercadistas.
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O governador interveio e, por fim, decidiu: construiria o mercado. Os Pombeiros, contudo, exigiram, em troca, que o estabelecimento se situasse às margens da praia, onde hoje se instala o castelinho da Casan. Vitória de Pirro: o novo Mercado, construído em 1851, acabou demolido 45 anos depois, tendo vida efêmera, para que afinal surgisse o atual Mercado, anexo ao Largo da Alfândega.
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Com outro nome, os Pombeiros ainda estão por aí, atrapalhando tudo o que tiver cara de novidade ou de progresso.
São os “Contra”. O que quer que represente algum progresso, urbano ou humanístico, esses empedernidos são “do contra”.
Floripa se tornou uma espécie de “quartel general” dos teimosos, gente que é contra tudo, sejam equipamentos da urbe para o turismo ou a mobilidade – como uma nova ponte, um novo hotel ou uma pioneira marina.
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Ninguém deseja uma cidade sem regras ou rendida à especulação imobiliária. Mas também não se concebe uma cidade que se torna conhecida por içar a bandeira dos arautos do atraso.