É uma joia da literatura o trecho de “O Amor nos tempos do cólera”, do mestre Gabo Garcia Márquez, em que Firmina Daza olha, sob os lençóis, o equipamento do doutor Juvenal Urbino na noite de lua de mel. “Com uma curiosidade mais do que científica”, pega o “aparelho”, sopesa-o, compara. E sentencia:

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– Mais feio que o das mulheres.

Na Feira da Ostra testemunho um momento semelhante, de curiosidade sobre formas, no primeiro momento em que um “índio” lageano é apresentado a uma ostra do Ribeirão. Esses moluscos bivalves habitam a memória e o paladar dos Manés da Ilha desde que o mundo é mundo. Cá pra nós, como dizem os manezinhos – e mirando uma ostra bem na sua “cara”, olho no olho – com uma franqueza que descreva só a aparência, não o sabor:

– É um bicho feio.

Uma ostra pode ser feia, mas tem caráter. Chegada a hora do lageano provar a criatura, e diante de sua óbvia careta de rejeição, um gourmet admirador da iguaria foi chamado para a sua “defesa prévia”.

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– A ostra – começou – é um coquetel de proteínas maravilhoso. Um verdadeiro e saudável drinque do mar.

Bom bebedor, o “índio veio” já se animou:

– Se é bebida…

– A ostra é um organismo vivo e, pode crer, é “hermafrodita”, traz lá no seu epicentro os dois sexos ao mesmo tempo –  e por isso se autofecunda.

– O quêêê!? Ela come a si mesmo?

– É um ser do mar, que se nutre do plâncton. É um presente de Deus, um organismo vivo. Uma “bebida” vital. Nunca comeste uma ostra na vida, homem de Deus?

– Já fui apresentado, claro… Mas tem essa gosma esbranquiçada e, no meio, uma crosta escura.

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– Tem estômago e intestino, é verdade. E um coração, cujos batimentos se pode observar.

– Barbaridade! Prefiro uma picanha, uma maminha, até um matambre! Pelo menos o bicho tá morto e assado! Quem é que gosta de comer o intestino dos outros? Mastigo o caracu, o miolo do boi, o rabo ou o pé de porco. Mas intestino?

– Não se preocupe. Até chegar à sua boca, bem lavada, é mais pura do que água filtrada. Uma concentração de hormônios e vitaminas. Melhor Viagra não tem! Caracu e pé de porco é pra baixo! Ostra é pra cima!

 

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