O torcedor de futebol é, mesmo, a encarnação da máxima de Jules Renard: “Não basta ser feliz, é preciso que os outros não sejam.” Pois agora estamos, nós, brasileiros, muito mais felizes do que os arrogantes protagonistas do 7 a 1, a caminho de casa e expulsos da Copa pela atrevida Coreia.

Continua depois da publicidade

O Brasil sobreviveu aos dramas alheios, ao tango “Por Una Cabeza”, que quase abateu os argentinos, e à trágica  “A Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner, que tocou como “pano de fundo” nos funerais da grande campeã do mundo, A Alemanha, que assim, dramaticamente, viveu o seu dia de 7 a 1.

Mas foi preciso vencer o pessimismo. Foi preciso, sobretudo, acolher algumas lições do futebol descrito em prosa pelo “Machado de Assis” da crônica esportiva, Armando Nogueira:

– O jogador vê; o craque antevê.

– A terra é redonda e gira em torno de …Phillipe Coutinho.

Continua depois da publicidade

A frase original mencionava Pelé. Mas, devidamente atualizada, premia o maior jogador brasileiro na atual Copa do Mundo: Coutinho.

O craque anteviu Paulinho se infiltrando na área sérvia e o serviu pelo alto, numa distancia de 40 metros. Passe de gênio, obra prima de boa métrica, para a conclusão magistral do meio-campo brasileiro. Gol de antologia, brilhando no por-do-sol tardio da Rússia moscovita.

Antes dos categóricos 2 a 0 – com poucos sustos – pairava na atmosfera brasileira aquele encardido pessimismo, antevendo uma tragédia. O velho complexo de vira-latas assumia um “quase-pânico”, confirmando Nelson Rodrigues:

– O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade, não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima.

Continua depois da publicidade

Até a gema preciosa que foi o passe de Phillipe Coutinho, pairava no ar o mesmo medo de Maradona, sofrendo nos minutos finais da quase tragédia argentina. Ou o olhar petrificado do técnico alemão Joachim Low, incrédulo, diante da zebra coreana.

***

Neymar, ainda em processo de recuperação de uma séria cirurgia, forneceu pinceladas, lampejos de seus múltiplos talentos, o suficiente para que os adversários e os inimigos fiquem sabendo: o craque está de volta.

O Hexa está vivo e pulsante. Quando Tite substituiu – para poupá-lo de algum “amarelo” – aquele que é hoje o seu maior craque, Coutinho, os mexicanos já sabiam: já têm muito o que se preocupar para a próxima segunda-feira.

 

Leia outras crônicas de Sérgio da Costa Ramos

Veja também as publicações de Cacau Menezes