O dramaturgo e poeta francês Jules Renard acendeu sua lâmpada de boas frases e, referindo-se ao torcedor de futebol, esse superlativo apaixonado, lascou:

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– Não basta ser feliz com a vitória do seu time. É preciso que o rival não seja.

A torcida brasileira ainda estava festejando a surra levada pela Argentina de Messi e do técnico fanfarrão, Jorge Sampaoli, quando entrou em campo para sofrer com o anti-jogo da Costa Rica. Suou uma tonelada de sangue antes de vencer, já na bacia das almas, e assim, escapar da zoeira.

Para enxergar o grau de dificuldades do Brasil nas duas primeiras rodadas é preciso aposentar o código do “politicamente correto”. Sim, Suíça e Costa Rica praticaram o anti-jogo e o anti-futebol. Os suíços, regulares como um relógio, fizeram nada menos do que 10 faltas em Neymar. Já os caribenhos renunciaram ao ataque e passaram 97 minutos sem dar um único chute ao gol brasileiro.

Tão insatisfeita anda a torcida que deseja ver o Brasil eliminado – claro, não se lhes pode negar esse direito – que andam sustentando a seguinte pérola:

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– Neymar sofre faltas porque quer…

O técnico da Costa Rica, Oscar Ramirez, de tanto ouvir os inimigos do craque repetirem a pecha de que ele é “cai-cai”, concedeu-se o direito de anunciar, em público, a tática que adotaria para o jogo, além da habitual retranca:

– Vamos cercar o Neymar e marcá-lo com “faltas bruscas”…

Ou seja: Ramirez confessou a tática anti-jogo, sob o aplauso da nossa própria galera, que quer ver o Brasil fora da Copa:

– É um cai-cai.

***

Tomara que, daqui para a frente, e para o bem do futebol, os juízes – aí incluídos os da máquina eletrônica” – protejam os verdadeiros artistas da bola, os Messi, os Cristiano Ronaldo e os Neymar. Ninguém prestará atenção ou comprará ingresso para assistir ao espetáculo de faltas repetidas e uma equipe que entra em campo para “não jogar”. Prefere “estragar a brincadeira” de quem quer jogar.

Mestre Armando Nogueira dizia que “gol de letra é injúria”, “gol contra é incesto”, “gol de bico” é estupro.

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Pois precisou um desses, um bico tosco e quase extemporâneo de Philipe Coutinho, aos 51 minutos, para que um mínimo de justiça acudisse a Seleção Brasileira.

Deu tempo para ampliar, e o 2 a 0 ainda foi pouco. E “politicamente incorreto” com os que torciam a favor das tramelas e retrancas do senhor Oscar Ramirez.

 

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