O corrupto veio se arrastando, amparado por um andador. Interessante: corruptos apanhados com a boca na botija imediatamente ficam doentes. E se amparam em bengalas, cadeiras de rodas, andadores, marca-passos. Como se a “mão leve” conduzisse a uma espécie de hemiplegia. Usou a mão pra roubar, perde o pé, ou o joelho, pra caminhar. Pior: ganha uma doença grave que, a seu juízo, não é cleptomania.
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Trampolineiros presos logo adquirem doenças que reclamam muitos cuidados. Como se a gravidade dessas enfermidades lhes garantisse a suprema indulgência e a plena impunidade.
Quem era um ladrão arisco e saudável passa, por encanto, a se mostrar um inválido – e logo vai pedindo liberdade por motivo de saúde, regalias no cárcere ou prisão domiciliar.
O ladravaz nem se lembra mais dos tempos de campanha, em que prometia honestidade e honradez:
– Quero me dedicar inteiramente à tarefa de cumprir, em meu mandato, todos os compromissos e metas assumidos no meu programa de governo. Como cidadão, vou lutar pela mudança de certos usos e costumes da política brasileira.
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Se fosse num daqueles programas de piadas prontas, apresentadas a uma platéia robotizada, logo se ouviriam as palmas e as gargalhadas gravadas.
Na verdade, estava pouco se lixando para as suas metas de governo. O que queria mesmo era “se forrar”. Agora, descoberto, pretende trocar a cadeia por uma cama king size, de preferência em casa.
Afinal, haverá prisão mais adequada, humana, limpa e asseada do que a prisão domiciliar? É tão perfeita que já vem com tudo: casa, comida e roupa lavada. Nem será preciso a tal visita íntima. A mulherzinha querida estará sempre lá, à disposição.
***
No Palácio, povoado de urubus e salpicado pelo esterco da imoralidade, o “Patriarca” de Gabriel Garcia Márquez – proverbial exemplo de “corrupto” vitalício – combina a resistência com os seus secretários desonestos:
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– Nessas últimas semanas vivo este triste cenário de acusações e calúnias políticas, ressuscitando fatos que ocorreram há dezenas de anos e que agora aparecem como se tivessem acabado de acontecer.
O Patriarca é partidário da prescrição de todos os seus crimes, aí incluídas, é claro, a aceitação de propina e a apropriação de dinheiro público.
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