Do planeta Marte, onde mora, o galo cósmico Meyer Filho manda uma soturna mensagem aos brasileiros pagadores de impostos:
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– Venham pra cá, antes que essa turma que está sendo gradualmente expulsa da política se vingue dos eleitos!
Ernesto Meyer Filho, mestre do surreal, o maior dos nossos autodidatas, viajava em vida para pintar seus “galos cósmicos”. Quando pendurou uma Lua Vermelha no ambiente dos seus galos siderais, poucos entenderam. Não era uma Lua. Era Marte. Quem entrasse no Bar Topázio, “baixo” Bocaiúva, às margens do Campo da Liga, o nunca assaz tão lembrado Pasto do Bode, haveria de encontrar um avaiano apaixonado, óculos de grau, jeitão de professor Pardal, voz estridente, mãos marcadas pelo vitiligo e um cacoete oral que consistia em pontuar suas frases com um metálico e exclamativo “nééé, ô!” – como se fosse a interjeição de uma araponga.
– A taxa dos juros siderais é muito mais baixa do que a do Brasil, nééé,ô,ô,ô! Em Marte, não tem agiota!
Quem, por sua vez, fosse, pelos anos 1970, ao Banco do Brasil da Praça XV, lá haveria de encontrar aquele torcedor avaiano compenetrado em sua missão profissional de caixa do BB. Olhar de tédio, neurastênico com a freguesia, o caixa pintava galos nas horas vagas – “sim, durante o expediente, néé,ôôô!”
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– Eles pensavam que eu não pintava no trabalho. Se não pintasse, morria. Fiz pra mais de 5 mil galos no Banco do Brasil! Mas nunca roubei!
O poeta T.S. Eliot, pioneiro do modernismo de Wasted Land – que em 1922 “amargava” como caixa do Barclay’s Bank, em Londres, e vivia deprimido por isso – não conseguiria torcer pelo Chelsea no domingo e se apresentar ao trabalho de “caixa” na segunda-feira. Era penoso e o bom humor caía a zero.
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Muito mais do que Eliot – resgatado desse trabalho maçante graças a uma “vaquinha” organizada em Paris por Gertrude Stein e Ernest Hemingway – Meyer Filho mereceria ter, em vida, tempo livre e paz de espírito para criar os seus quadros coloridos de deslumbrantes e desvairadas hipérboles emplumadas.
Livre das agruras da vida terrena, Galo Meyer teme a chegada de políticos brasileiros no seu planeta de adoção.
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– Já imaginaram se o Congresso revolve manter um “Anexo” aqui em Marte, só pra faturar mais um “adjutório-viagem”, um “auxílio-paletó”, uma “bolsa-cósmica”?