Gostaria de retornar a este espaço com “a alegria de um barco voltando”, como reza a lira de Dolores Duran em “A Noite do Meu Bem”. Mas o país, infelizmente, está imerso em medonho processo “des-civilizatório”. Não é na longínqua Síria que sangra uma guerra civil: é aqui. A guerra pelo pó branco está desmanchando o Brasil, em cujo campo de batalha – suas cidades médias e grandes – jazem 60 mil assassinados por ano.

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Tamanha chaga pede a união de todos os viventes e uma vacina contra o “ódio” –  esse fel, esse veneno que corrói a alma do inconsciente coletivo brasileiro. Aqui vigora uma terrível distorção: ama-se pouco a terra, o chão, a vida da boa cidadania. Prefere-se alguns partidos indignos, seus cleptocratas e seus líderes decaídos na lama da corrupção.

Sim, a civilização corre sério risco neste Brasil assaltado por uma ladroagem de casaca, o “horror” da pilhagem transformado em programas partidários.

É preciso refundar a política e a vida pública, humanizando-as. Acabar com a cleptocracia homicida. Sim, homicida, porque o dinheiro roubado é subtraído à educação, à segurança, à saúde de um povo depauperado, vítima de gente que não sabe o que é honra.

A atual tragédia é assustadora porque não há líderes confiáveis para tratar do paciente, este Brasil tão deprimido. Numa democracia representativa a ausência de partidos estáveis (e críveis) é uma tragédia, pois sem eles não se opera a fotossíntese da democracia, a interação entre representantes e representados.

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O Brasil clama por uma restauração moral. Que depois do horror venha a regeneração. E ela só virá com a mudança radical dos métodos de arrecadar recursos para campanhas eleitorais. Foram estas – caríssimas, ao ponto da insanidade – que patrocinaram o Brasil do Mensalão e do Petrolão.

A isso levaram a nossa pátria: à “des-civilização” e ao mais desesperançado descrédito. Chegou o momento de um mea culpa. Precisamos agora de boa justiça. Que conceda o “devido processo legal” aos criminosos do colarinho branco – e que estes reconheçam suas culpas e renunciem aos seus sonhos de poder eterno.

Entre as primeiras virtudes de uma democracia está a alternância no poder, para que neste não se viciem os que se habituaram à volúpia de mandar – mandar em tudo, até no que não era seu.

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