Interessante: por que esses ancoradouros conhecidos como trapiches, antes tão bem retratados pelo pintor Eduardo Dias – e bem fincados nas duas baías – foram aos poucos perdendo as pernas e as muletas?
Continua depois da publicidade
De repente, esses apêndices que a aventura humana plantava nas calmarias das beiras do mar, deixaram simplesmente de existir nesta Ilha quase órfã de navegadores e de marinas.
Até o único trapiche da Beira-Mar experimentou verdadeira novela para ser reconstruído. Aliás, construir qualquer trapiche na Ilha é case de desafio ambiental. Parece que esse equipamento sofre de defeitos congênitos, aleijões que transformam os monstrinhos em desajeitadas aves pernaltas ou filhos do dragão do Lago Ness com alguma girafa anfíbia.
A falta do hábito faz os trapiches tortos. Um trapiche nada mais é do que uma pequena extensão da terra firme, uma tosca escada postiça, um “suporte” para que o homem cumpra o seu destino de navegar. Destino que uma exagerada ecoteocracia pretende negar ao ilhéu comum.
Imagine-se a Ilha de Capri ou a de Ischia – ao largo de Nápoles, no Mar Tirreno – de repente despidas dos seus trapiches. Seriam naves desgarradas, cemitérios de desterrados.
Continua depois da publicidade
Não há ninguém que explique – ou que entenda – essa bizarra idiossincrasia que pretende negar as estradas do mar aos habitantes desta que é uma das mais belas ilhas do mundo.
Pior: não há quem explique a estranha omissão e o apático conformismo das autoridades em “não trabalhar” com a alternativa marítima. Implantar terminais e organizar linhas do transporte coletivo de massa nos mares e baías que banham a Ilha seriam metas naturais de administrações responsáveis.
***
Homem de bom senso, que não desconhecia as artes do pragmatismo, mas conhecia as idiossincrasias de empedernidos do gênero Coreia do Norte, o ex-prefeito Sérgio Grando era um entusiasta de marinas na Ilha, desde que concebidas com o devido respeito ambiental. Depois de ter conhecido as de Miami, onde esteve para um sea trade, o então prefeito pedia:
– Chamem de trapiche. Se chamar de marina, a turma não deixa fazer.