Pero Vaz de Caminha chegou ao plenário do Congresso Nacional no exato momento em que os nativos discutiam suas diferenças, em meio ao ódio e o ranger de dentes, marca registrada do ambiente político da terra nova.
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Dois distintos senadores trocavam elogios:
— Vossa Excelência é um velhaco, um meliante, um salafrário, um finório, um pulha, um enganador de eleitores, um embusteiro e um batedor de carteiras!
— E Vossa Excelência é um associado do jogo do bicho, das máquinas caça-níqueis, mensaleiro, petroleiro, nomeador de parentes, trampolineiro, caloteiro, peculatário e dilapidador do dinheiro público!
Imaginem se o primeiro escrivão houvesse presenciado um debate no outro plenário, o do STF, com os dois “garnizés” do momento, Gilmar Mendes e Luiz Roberto Barroso?
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Pero Vaz anotou cuidadosamente aquelas expressões do português “parlamentar” e “jurídico”, registrando para D. Manuel:
“Esses selvagens enfeitam os beiços com tantos palavrões que o que a nós pareceria grave ofensa, autêntica aberração, para eles acaba sendo um grande elogio. Ser chamado de “ladrão” aqui nestes trópicos parece ser uma distinta consideração, uma espécie de galardão ou condecoração social.”
Naquela que seria a sua segunda missiva a El Rey, recomendou:
“Sugiro a Vossa Majestade designar para nossa embaixada aqui nesta Terra Papagali o maior pilantra que possa ser encontrado aí em nossas cadeias.E que ele chegue com o verbo afiado para elogiar todo mundo com um palavrório do mais baixo calão moral. Tipo “ladravaz, bandalho, salafra, safado, trapaceiro, mão-de-gato, gaturamo” e outros regalos mais que porventura existam na língua do nosso vesgo Camões”.
El-Rey recebeu a carta com um grande pudor, as orelhas ardendo de vergonha, o coração preocupado com os escândalos que começavam a pipocar já na primeira semana da descoberta transatlântica. Se lá do outro lado do oceano “ladrão” era elogio, temia muito que a moda “pegasse” na banda européia.
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Para continuar Venturoso, El-Rey D. Manuel mandou trancafiar aquela carta a sete chaves na Torre do Tombo, à beira Tejo, com ordens expressas para que só a tornassem pública no ano de 2018.
Esperava que, até lá, todos os ladrões do Brasil já estivessem saciados, encontrando outras atividades um pouco mais nobres.