Depois dos primeiros debates, ficamos na mesma. Não se debate o futuro do país, mas o seu passado de “malfeitos”. Qual será o futuro da educação? Da saúde? Da segurança pública.

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Nunca se saberá dos projetos dos presidenciáveis – eis que eles escolheram não debater. Não há um debate; o que há é um “bate-boca”. Há sempre alguma figura hilária, pronta para derrubar o tabuleiro. E há os que não querem um debate. Mas um “teatro”.

Há o “apelo” para que apareça no vídeo a cadeira vazia do convidado “impedido de comparecer”, há o primeiro ataque do “cabo” ao “capitão” e deste aos “políticos tradicionais” e, entre estes, um esforço para a “desqualificação” dos “folclóricos”. Em resumo: debate produtivo seria entre dois, no máximo três candidatos. Com 13, o que há é um bate-boca em forma de desaforos.

Estabelece-se, então, o “debate à brasileira”. A “química” das eleições consegue ser tão naturalmente peçonhenta que o apelo à moderação se perderá logo na primeira rodada de perguntas, quando os litigantes abandonam a luva de pelica e “calçam” um vistoso soco inglês.

O lutador situado à direita do ringue, quer dizer, do vídeo, abre a saraivada de golpes e revides:

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– Quero cumprimentar aqui o meu adversário, o candidato das elites…

– Das elites? Uma ova! Quem é que sempre se elegeu com o voto dos bacanas? Quem?

Pronto. Começa o festival de baixaria que pontuará toda a luta. Ninguém quer ser o candidato das elites, todos se pretendem os eleitos das massas, os escolhidos do povão.

A plateia assiste, desconfiada, sabe que “daquele mato não sairá cachorro, nem coelho”. No máximo, o telespectador assistirá a um desfile de promessas eleitorais, como a de “emprego, segurança e saúde para todos”. O Paraíso na terra.

O debate continuará, tão elevado quanto os cumes do Everest, os pináculos do Aconcágua:

– Verdade que Vossa Excelência superfatura obras pra ficar com o troco?

– E Vossa Excelência, que vive recebendo dinheiro de doleiro?

***

O moderador intervirá, pedindo “menos baixarias”, até porque são apenas 10 horas da noite e as crianças ainda estão na sala.

Depois de duas horas de cobras, lagartos e jaguatiricas, o moderador finalmente encerrará o fino debate, sob o prestigioso patrocínio da “Empreiteira Papa Tudo” – “a menor quilometragem pelo maior preço”.

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Em todo caso, lembrará o moderador, caberá ao povo votar com “um cuidadoso espírito cívico e uma elevada sabedoria”.

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