Neste domingo, últimos suspiros de 2017, devemos cumprir todos os ritos de passagem. Usar o branco, comer uvas e lentilhas, bichos que “ciscam pra frente”. Não haverá lugar para frangos e outras aves emplumadas nesta longa noite do Ano Novo. Só assim estaremos nos distanciando dos políticos do Brasil, que só ciscam “pra trás”.

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A noite é de ritos e de superstições, com missão especial para os fogos de artifício. Eles e sua mágica pirotecnia existem porque seus inventores, os chineses, deram-lhes a missão de espantar os maus espíritos. Bela ideia, belos espetáculos.

Cada povo com o seu rito, mas em todos está o desejo de uma vida nova. No México, as roupas podem ser de qualquer cor, mas precisam ser novas. No Chile, queimam-se bonecos vestidos de velhas roupas, como os “Judas” na Aleluia. Já os americanos comem feijão fradinho e, debaixo do prato, colocam uma nota de um dólar, com a efígie de George Washington e uma vela acesa no altar da prosperidade.

Sobretudo, “hay que enternecer-se”, com um especial olhar dirigido à mulher amada. Logo será o ano da graça de 2018, que vem chegando com uma lua cheia, anunciado pelas formas brancas que o poeta negro um dia saudou, em “Antífona”:

– “Ó formas alvas, brancas/ claras de luares, de neves, de neblinas!/Ó formas vagas, fluidas, cristalinas…”

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Salve negro e sublime poeta.

É importante cumprir com zelo e paciência todo o ritual da noite: deixe que a espuma do festivo líquido suba ao colarinho da garrafa – e que a rolha salte com o ruído de um espocar de pura felicidade.

Essa mamadeira de Ano Novo é um vinho santificado. Foi inventado lá pelo século 18, às margens do rio Marne pelo fradinho D. Pérignon, na região da Champagne, leste de Paris, cujo nome herdou para a posteridade de todas as sacristias.

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Levante sua taça, leitor, dê um beijo “de cinema” em sua musa e comemore o singelo fato de estar vivo. Este 2018 há de nascer mais justo e mais limpo lá por trás do Morro da Lagoa – numa nova alvorada que há de chegar para lavar nossa alma, ressuscitar a ética e abençoar o Brasil.

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