Diante do choro desta coluna, derramando lágrimas sobre a Floripa do passado, amável leitora escreve para desejar “um bom dia, uma semana plena de sol”. Sugere que o passar do tempo é próprio da vida. E que cultivar “só o passado” não deixa de ser uma “energia perdida”.
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– És muito novo ainda para ficar olhando só pra trás – ameniza. “Carpe Diem” e vamos em frente!
Principalmente depois que o Brasil parou de “brigar” pelo voto e amanhece, aparentemente, bem pacificado.
Tudo bem. Aceito o convite para viver o hoje e o amanhã. Meu coração bate por um dia de céu claro e contínuo, atmosfera limpa, o sol iluminando a manhã com o seu magnífico holofote – para que os ilhéus percebam, afinal, olhando sobre a cabeleira dourada dos garapuvus e a coroa viçosa dos ipês, que deles é o Reino dos Céus.
Viver aqui nesta Ilha eleita já é a benção suprema. E viver, aqui, num futuro “perfeito”, como o do Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, será uma apoteose.
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Imaginemos, amiga leitora, este nosso Paraíso bem administrado, o progresso respeitando o meio-ambiente com aquela panaceia receitada por nove entre 10 ecoteocratas – o tão decantado desenvolvimento sustentado.
A Floripa “das antigas” pode ter perdido as suas galochas na correnteza das chuvas, e as esquinas deixaram de ser os nossos sítios de referência, os nossos pontos de encontro familiares. Mas a vida civil com certeza será mais limpa e asseada.
Com o aperfeiçoamento dos sistemas de computação, o próprio Estado e os seus “governos” serão extintos. O meio ambiente encontrará o seu equilíbrio, em decorrência da diminuição dos veículos sobre rodas. Medidas protetoras preservarão a qualidade da água e do ar – e, milênios adiante, ainda será possível enxergar-se o Cambirela em toda a sua vertical imponência.
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Com essa natureza de luxo e com a primavera recuperando a saúde – até aqui tinha sido só chuva e ventania – não há assunto político que valha a pena, logo agora que os garapuvus estão explodindo em cores e os ipês lembram nossa vizinhança com Deus.
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Tenho dois ipês em meu jardim: um roxo, a quem chamo reverentemente de Senhor dos Passos, e outro amarelo, a quem batizei de Brasil, um país em franca convalescença.