Em tempos de grandes migrações, Floripa mais parece a ilha de Lampedusa, no Mediterrâneo, que não para de receber barcos lotados de desgarrados de outras terras, fugindo da guerra ou da miséria. Na guerra urbana que vive o Brasil, todos ouvem falar desta ilha outrora pacífica e ainda hoje bela como uma antessala do Paraíso. Mas nem por estar Floripa assentada sobre uma ilha de 47 quilômetros de extensão por 12 de largura, podem achar que aqui cabe todo esse povo extra.
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A Ilha de Santa Catarina, caros forasteiros, – cuidado, “Ilha de Florianópolis” não existe – é uma ilhota como as do Dodecaneso grego. Uma ilha como Santorini e Mykonos. Lá só podem entrar novos turistas se a população de recém-chegados estiver equilibrada. Só entram “tantos” turistas se outros “tantos” tiverem saído. Como em Fernando Noronha, nosso venerado santuário ecológico do Atlântico.
Mas como fazer esse controle sem ferir o princípio democrático do direito de ir-e-vir? O problema é que a maioria só “vem”. E fica. Vai ficando. Nos últimos 20 anos o aumento da população ilhoa tem beirado a delirante taxa de 8% ao ano, algo que nem Xangai, na China, experimentou. Em 1970, Floripa era uma adolescente de 140 mil habitantes. Hoje, oficialmente, tem 480 mil. Mas, considerada a região da Grande Floripa, Ilha e continente, aí incluídos os municípios geminados de urbanização contígua, como São José, Biguaçu e Palhoça, essa conta sobe fácil para perto do 1 milhão de viventes, número que simplesmente dobra na alta temporada.
Na Rússia dos czares, as pessoas necessitavam de autorização das autoridades para deixar uma cidade e entrar em outra. A torturada Sonya, criatura de Dostoievski em Crime e Castigo, queria acompanhar seu amado Ródia Raskolnikof à desolada Omsk, na Sibéria, onde o assassino cumpriria sua pena. Precisou de um “visto especial” para deixar São Petersburgo. A Lara, de Pasternak, também sofreu com os “passaportes” do comando bolchevique, que manteve os rigores do ancién regime no “ir-e-vir” entre cidades.
Na impossibilidade de restaurarmos a “disciplina russa”, exigindo passaportes dos adventícios, talvez fosse o caso de propor aos próprios visitantes uma “alternância de temporada”. São todos muito queridos e bem-vindos – afinal, a roda da economia precisa girar. Mas quem já veio no último verão, tenha a santa paciência – e nos dê uma trégua nesta próxima primavera.
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