Dever é o verbo mais praticado da praça, não há brasileiro que não esteja devendo alguma coisa – um aluguel, uma prestação, um carnê, o IPTU ou o armazém da esquina. Dever faz parte da vida das pessoas e dos governos, com a diferença nada sutil e que as pessoas vão à falência; os governos, nunca.
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O Real estabilizou a economia, é bem verdade, mas as crises e os escândalos não se cansam de chacoalhar o nosso bolso. Um Real vale US$ 4,20 e assistimos este paradoxo: não falta Dólar na horta de “verdinhas” do Brasil – “investidores” se aproveitando dos juros altos. E nunca houve tamanha penúria de la plata nos bolsos do brasileiro comum, o dito inadimplente.
Salário do Sudão, custo do Japão. Ordenados de Guiné-Bissau, preços parisienses. Contracheques da Etiópia – com direito a assistir ao pantagruélico jantar de Nicolás Maduro, o ditador que manda seu povo comer no Brasil, enquanto ele próprio exercita suas sofisticadas mandíbulas em restaurantes caros e famosos.
Brasileiro sempre gastou mais do que o dinheiro que entra no seu bolso. A “Dívida” é uma velha conhecida deste país de eleitores pobres e candidatos milionários. Trata-se de uma senhora imensa, rotunda, peitos de matrona romana, glúteos de uma diva de Peter Paul Rubens, o gênio batavo que gostava de pintar mulheres gordas.
No fundo, a “Dívida” é indispensável à nossa vida, ao nosso cotidiano, ao nosso desequilíbrio. Todos devem alguma coisa: o inquilino deve o aluguel, o mutuário deve ao agente financeiro, o funcionário público deve ao açougue. E o governo, para dar o mau exemplo, deve precatórios para todo mundo.
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Todos convivem com “Ela”, todos a administram. Mas só uma categoria de homens adora copular com a “Dívida”: os banqueiros.
Estão sempre passando a mão nas suas curvas. Acariciando os seus quadris, apalpando-a, presenteando-a com juros e correção monetária. No mundo inteiro, os bancos se especializaram em ordenhar os governos e os cidadãos que pagam impostos, mediante uma simples providência. Vendem dinheiro aos governos por preços cada vez mais exorbitantes, formando uma dívida formidável, que governo algum conseguirá pagar.
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Os bancos ainda não se deram conta de que eles são as Marias Antonietas de hoje. E que as guilhotinas já estão nas ruas.
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