O som lembra uma noz sendo quebrada na dobradiça: crack. Um ruído de destruição, ruptura, desastre, morte. Este é o som da maior tragédia que hoje angústia a alma brasileira. Crianças estão marcando encontro com a morte, vítimas de traficantes e até de seus próprios pais viciados. O crack – cocaína misturada à amônia, bicarbonato, água destilada e transformada em pedras, fumadas em cachimbo – causa dependência química imediata. Agindo no sistema nervoso central, a droga gera aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor, excitação, delírio e sensação de onipotência.
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O crack é um gatilho. Aperta o coração de quem consome, transformando o usuário num eufórico transgressor. O viciado rouba, mata e morre. Perde todas as referências morais. Transforma-se num monstrinho suicida ou homicida, sem qualquer controle de si mesmo. Cidades, bairros inteiros acolhem hordas cada vez mais numerosas de crackers-dependentes. Proliferam nas cidades de porte médio as “Cracolândias”, deprimentes logradouros públicos ocupados por viciados em estágio de “des-cerebração”, zumbis que se tornam mortos-vivos sem cérebro.
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Está mais do que na hora dos candidatos a mandatos legislativos ou executivos responderem com projetos factíveis contra essa grave ameaça que paira sobre a cidadania. A de assistir o domínio do crime mediante a disseminação de uma droga socialmente desestruturante, que pode literalmente acabar com a civilização. Quais seriam os planos dos futuros governantes para salvar a cidadania e a dignidade da criança brasileira, sem a qual não haverá futuro, não haverá vida decente, não haverá país?
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O número de homicídios vinculados ao comércio de drogas mais do que decuplicou em Florianópolis. Assustam os acertos de conta, consumados pelo “tribunal” do tráfico na Grande Florianópolis: as execuções se sucedem e já chegam aos três dígitos por ano. Ao reconhecer uma criança como o único vestígio de divindade no ser humano, os viciados em drogas “administráveis” deveriam por a mão na consciência e abdicar desse mercado que estimula e financia o crime.
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