Apesar da vertiginosa queda dos juros oficiais, expressos pela Selic, os bancos não cedem: estão cada vez mais gordos e egoístas. Anunciam, sem corar, lucros francamente obscenos, algo como 30% do seu patrimônio líquido. É como se, a cada ano, ganhassem o equivalente a 1/3 de tudo o que já possuem. O lucro líquido anual em países do hemisfério norte nunca excede os 5% ou 6%.
Continua depois da publicidade
“Crime e Castigo” é a obra mais célebre de Fiodor Dostoievski e o romance-símbolo da literatura russa. No livro, Raskolnikof, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petersburgo até cometer o crime que tentará justificar por uma delirante teoria: o homem que “pensa” e que tem a percepção da miséria de sua condição, é titular do direito de matar os parasitas sociais que o fazem sofrer. Como a velha agiota Alena Ivanovna – uma exploradora de desesperados, como ele.
Imagino o estudante de Dostoievski aplicando sua teoria no Brasil dos juros altos, povoado de Alenas Ivanovnas, todas saqueando a sociedade com as presas afiadas do juro insensato, drenando, de “canudinho”, o pobre salário do trabalhador que paga 400% de juro (ao ano) na prestação de um fogão, uma geladeira, uma televisão.
Só cai o juro oficial e, com ele, a inflação. Sim, já podemos desfrutar de uma inflação “europeia”, inacreditavelmente medida em um ano: 2,68%. Mas o que se poderá dizer dos juros bancários, inflexíveis, nos seus inenarráveis três dígitos?
Os banqueiros admitem que, “tecnicamente”, nada justifica a elevação dos juros nos níveis cobrados dos brasileiros. Falando em “off”, isto é, à sua própria “inconsciência”, os vendedores de dinheiro admitem que a causa dessa espoliação está na “falta de concorrência entre os bancos”.
Continua depois da publicidade
***
Será que o machado de Raskolnikof teria fio suficiente para cortar o pescoço de alguns desses sugadores, praticantes da pior espécie de assalto financeiro, posto que supostamente “legalizado”.
Tudo se explica com uma única palavra: ganância. A mesma necessidade “biológica” que animava o fígado da velha agiota de Dostoievski. Sugar, extorquir, drenar o bolso dos desesperados…
Leia outras crônicas de Sérgio da Costa Ramos
Veja também: