Em meio a uma crise que não conhece fundo do poço, até a Copa do Mundo é um evento “perigoso”, pois autoriza certos “legisladores” a votar em causa própria.
Aproveitando que a turma estará ligada na bola, Câmaras de Vereadores e Assembléias Estaduais votam, na surdina, aumentos dos respectivos salários. Com a mesma cara de pau com que certos políticos se outorgam “auxílios” e todo tipo de privilégios.
Em nossa “Carta-Cidadã”, cabe tudo. O sujeito quer aumento de salário e já pensa em anotar o seu pedido na Constituição, mediante uma PEC – mais um remendo no “livrinho”.
No Brasil, de 1834 a 1988 – “elegeram-se” oito constituições, algumas outorgadas – e o “retrato” é confuso, tanto quanto pode ser atrapalhada uma nação presidida por uma Carta de quase 500 artigos e um sem-número de emendas, algumas tão irrelevantes quanto as que alteram artigos que deveriam estar numa lei ordinária.
Temos aqui um sério problema de “cultura”, um vício rapinante: se não deu pelo caminho legal, invente-se uma saída, um jeitinho, uma fórmula de tornar legal, o ilegal e o imoral.
Mexe-se na Constituição como se esta fosse uma letra de samba experimental numa roda de bambas da Mangueira. Não há deputado ou senador que não tenha apresentado a sua PEC, na expectativa de perpetrar o seu mesquinho casuísmo.
O Brasil será mais livre e respeitado no dia em que deixarem a Constituição em paz.
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Vivemos um conto de Kafka: uma crise dentro da outra. Saiu Dilma, entrou Temer. Cujo mandato está mais uma vez sob ameaça de nova denúncia, a terceira, ou seja, manipulável em nome de uma “boa barganha” no plenário da Câmara Federal.
Como em Brasília, segundo Nelson Rodrigues, “não há inocentes, só cúmplices”, clama-se de lanterna na mão por “um honesto”.
Nos “sites” criados na escuridão da Internet, a campanha já começou. E oferecem como matéria prima de cada candidato exatamente o que mais falta no Brasil de hoje: honestidade.
Eis uma virtude que não deveria ser oferecida como “diferencial”. É obrigação.
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