Espero abrir a janela amanhã, para que nela entre uma radiosa quinta-feira, e descobrir que o Brasil está vivo — e, por milagre, sem rancor.

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O papa Francisco já havia pedido concórdia e paz aos brasileiros, mesmo àqueles vencidos por suas paixões políticas, pois partidos e governantes não valem uma artéria obstruída pela raiva.

Democracia requer civilização e convivência entre contrários, além de alternância no poder, desde que o contrato social que o preside não tenha sido aviltado.

Se o Brasil despertar amanhã para confirmar a plena vigência da democracia e do estado de direito, respeitados os códigos humanos e os individuais, será uma vitória a ser comemorada.

Qualquer que tenha sido a decisão do Tribunal de Segunda Instância à Justiça Federal, as leis e os códigos, o civil e o penal, precisam ser respeitados. O julgamento de Porto Alegre é de instância intermediária, mas, para que recursos sejam interpostos, é preciso respeitar o chamado “devido processo legal”.

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Onde estaríamos, como nação, se cada cidadão imprimisse às leis um viés político para a sua defesa?   

É a uma pátria pacificada e temperada pelos bons aromas civilizatórios que os brasileiros precisam abraçar, sem dar ouvidos a quem deseja incendiar as paixões já incandescentes.

Nem o Brasil nem a política acabam hoje — e, por isso, o ódio não pode vencer a esperança. É preciso deter a alma envenenada pelo puro rancor.

Se predominar, entretanto, a intolerância e a violência, não estará distante o dia em que o Brasil, ou qualquer país democrático, amanhecerá afogado numa incontrolável onda de ressentimentos, em que se negará oxigênio aos viventes e água aos sedentos.

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Acode-me o medo de ficar à mercê de algum grave mal infeccioso, emboscado por uma dessas novas pestes que impregnam a atmosfera, algumas dessas peçonhas que voam pelo ar e se arrastam pelas ditas redes, como a cizânia, a mentira, as fake news, as “narrativas” e tantos outros bacilos tão predatórios quanto a má vontade humana.

Vamos acreditar que o Brasil não será deserdado pela ética, pelo bom senso e pela misericórdia — e que saberá evitar o naufrágio do humanismo e da humanidade.

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