O “melhor programa da tevê”. Além de pagar impostos, o contribuinte brasileiro está, a partir desta sexta-feira, obrigado a ter sua sala de visitas invadida pelos “presidenciáveis” a bordo do famigerado “Horário Eleitoral Gratuito” –  que, como se sabe, de gratuito não tem nada.

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Antigamente era a “Lei Falcão”. Lembram-se? Um álbum de figurinhas em que os candidatos não falavam. Uma voz em off  lia os seus currículos. Choviam títulos de Amigos dos Escoteiros, da Marinha, da Banda Amor à Arte e dos Clubes de Cinofilia – que não tinha nada a ver com cinema, mas com cachorro.

Aos candidatos não era permitido sequer latir. Cabia-lhes, como a nós, sentenciados telespectadores, ouvir em play back as hosanas e as louvaminhas que acompanhavam os retratos inanimados.

Sendo apenas dois os partidos permitidos, governo e oposição (Arena e MDB), sobrava tempo para as outras “pérolas”: fotos mostrando o candidato em ocasiões especiais. Posando de santo na “Primeira Comunhão” ou na “Cruzada Eucarística”. Heroico, dentro da farda de cabo-intendente do 14º BC. Depois, era só lembrar que o número do candidato era o “xxxx” e que, uma vez no poder, o pretendente saberia curar todos os males da humanidade: de câncer a brotoejas; de erisipela a psoríase; de lumbago a nó nas tripas.

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Trata-se, hoje, de uma fórmula esgotada. Uma herança da ditadura. Ninguém mais se sensibiliza com políticos angelicais prometendo “o céu na terra” em horário nobre.

Ou “vocativos” de oito a 10 segundos, sem tempo sequer para uma frase. Candidatos de caricatura entoando um bordão, ou remetendo o eleitor às redes sociais.

Pior: aparecendo em novos partidos, onde repetirão tudo o que fizeram nos velhos.

Do que adiantam vídeos mostrando o candidato no pleno exercício da sua filantropia, beijando criancinhas, amparando velhinhas ou comendo o “pastel que matou o guarda”? Tudo sob a imponente cortina musical de campeões do cinema, como Ben-Hur, Odisséia no Espaço, A Ponte do Rio Kway e …E o Vento Levou?

Do que adianta tanta demagogia nesse “cinema eleitoral” se o próximo capítulo é sempre aquele desvio de verbas via ONG fantasma? Ou qualquer das múltiplas formas fraudulentas de subtração de recursos do erário, ordenhado através das tetas de estatais como a Petrobrás?

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Muda Brasil.

 

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