“Quando começava a chover… não parava mais. O clima aqui é ruim…”, diagnosticou o capitão Louis-Antoine de Bougainville, em dezembro de 1763, ancorado na Baía Norte com a corveta Le Sphinx. A lestada não deu trégua. Foram sete dias debaixo de chuva, como uma praga bíblica.

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“Há uma pesada formação de nuvens e um ar abafado, produzindo constante condensação”, anotou o navegador em seu diário.

O naturalista Antoine Joseph Pernetty fez os registros da “resenha social”:

– Fomos jantar na casa do governador Francisco Cardoso de Meneses e Souza, debaixo de uma chuva insistente – que ia e vinha. A Ilha está mergulhada em brumas – e, acrescentaria um nativo manezinho, “vivendo uma lestada com mar de rebojo”.

Sim, o velho ditado deve ter nascido naqueles tempos em que a Ilha ainda não era uma selva de pedra:”mar de rebojo, três dias de chuva e nojo”. Já em pleno século 20, a chuvarada ficou associada à presença de algum circo na cidade: “Circo na cidade, temporal é novidade.

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Tempos de Bougainville, século 18. Vila de casebres cobertos por folhas de bananeiras, as “residências” não tinham chaminés. Na única boa casa da Ilha, a sede do governo, altos da Praça da Matriz, o governador esperava os franceses para o jantar.  “Couvert” pronto e mesa servida, a delegação francesa foi apresentada aos dignitários locais: o chefe de Justiça, o major da Praça de Armas, dois outros oficiais e um padre franciscano, “que sequer sabia Latim”.

O governador e a intelligentzia local fizeram as honras da casa para monsieur Bougainville e comitiva. Os pratos foram preparados à moda da região, mas desencantaram os comensais, acostumados à gastronomia européia, como deixou claro o visitante Pernetty:

–  O pão, sobretudo, nos pareceu muito ruim, com a superfície dura, tendo ficado pouco tempo no forno. A refeição era composta de pratos de caça – coelhos e aves – todos preparados com açúcar, que “eles colocavam em todos os molhos, assim como o açafrão”.

***

O observador Pernetty arrematou:

–  O ar é insalubre e os homens estão, talvez por causa da chuva permanente, num singular estado de inércia e letargia.

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