O que dizer de um Carnaval que “fechou” a Praça XV, envolta em tapumes, por claudicante “decisão” do poder público, incapaz de garantir um mínimo de segurança?
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Todos os carnavais de Floripa terminavam no coração da figueira. Ali se encontravam, nas quartas-feiras de cinzas, as orquestras do Lira e do Doze, cordiais concorrentes, as famílias abençoadas pelo fícus indianus e irmanadas pelo samba, o petit-pavê da praça transformado em salão de baile.
Enquanto rolava sob a figueira essa fraterna “consagração” do Carnaval, nas calçadas que margeiam a praça subiam, contritas, as Filhas de Maria ao encontro das cinzas purificadoras da Missa das Seis, conduzida pelo padre Bianchini ou pelo monsenhor Frederico Hoboldt.
E a Quarta de Cinzas falecia ao meio-dia, remida, com a absolvição de todos.
Hoje, fechada, a praça se tornou uma espécie de limbo em homenagem à inércia e à incompetência. Já imaginaram se a moda pega? O comércio, os bancos, as escolas, os espaços públicos – como museus e praças – todos fechados “por motivo de segurança”, ou por de falta de?
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Voltaríamos ao tempo em que a própria Praça XV se “elitizou”, nos primórdios do século 20. Gradis importados de Birmingham, Inglaterra, cercavam o território e um funcionário municipal “abria” e “fechava” os portões da praça. Cenário de capitais europeias, o “expediente” compreendido entre as nove da manhã e da noite, os habitués avisados pelo sino que se pendurava no pescoço de uma grande árvore. Ainda não era a figueira, fícus de 1906, hoje uma “jovem senhora” de 112 anos.
Caberia ao prefeito Henrique Rupp Júnior, no início dos anos 1920, a boa ideia de “deselitizar” a praça e devolvê-la ao povo – sem muros ou gradis, estes doados às igrejas do Rosário e de São Francisco.
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Já imaginaram a bela Place des Vosges fechada pela prefeitura de Paris por causa de andarilhos e vagabundos? A Trafalgar Square, em Londres, dominada por gangues de desclassificados? A Washington Square, em Nova York, controlada por bandidos do baixo mundo?
Que tal, pra começo de conversa, reforçar a Guarda Municipal na área e chamar a PM para uma varredura restauradora nos jardins onde Floripa opera a sua própria fotossíntese?
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Afinal, já dizia o poeta Castro Alves: “A praça é do povo como o céu é do condor”.