Houve época em que todos os anos surgiam inspiradas composições populares, reveladas em concursos de marchinhas carnavalescas. As finalistas ganhavam as luzes da ribalta, conquistavam as ondas do rádio, os salões, a eternidade.
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Nos anos 1970, esses concursos começaram a definhar – até desaparecerem completamente. Antes dessa lenta agonia, ainda espocaram sucessos de verdadeiro gênio carnavalesco, como “Bandeira Branca”, de Max Nunes e Laércio Alves. Em plena ditadura raivosa, o Carnaval de 1970 foi embalado por uma encantadora marcha-rancho, que assinalaria o último clássico do repertório carnavalesco: “Bandeira branca, amor/Não posso mais/Pela saudade que me invade/Eu peço paz”.
As belas canções não eram prisioneiras dos salões. Derramavam-se pelas ruas, dominavam a avenida, como aconteceu com o samba-enredo da Portela naquele ano: “Foi um rio que passou em minha vida”, de Paulinho da Viola: “Ah, minha Portela/Quando vi você passar/Senti meu coração apertado/Todo o meu corpo tomado/Minha alegria voltar”.
Em 1967, “Máscara Negra”, de Zé Kéti e Hildebrando Pereira Matos, ganhara os corações carnavalescos e servia de pretexto musical para que os foliões recém-conhecidos se beijassem bem no meio do salão: “Tanto riso, oh, quanta alegria/ Mais de mil palhaços no salão/ Arlequim está chorando pelo amor da Colombina/ no meio da multidão”.
Floripa também cultivou a sua bela tradição de compositores carnavalescos, autêntica constelação de artistas criativos, como Zininho, Luiz Henrique, Mirandinha e Aldo Gonzaga, entre tantos outros. Canções inesquecíveis saíram dos programas de auditório das rádios “Diário da Manhã” e “Guarujá” para as ruas e os salões: “Largo Treze de Maio”, “Quem é que não chora”, “Você há de pagar”, “Magia do Morro”, “Deixa a porta aberta”, “Miramar”, “A Rosa e o Jasmin” – até o grande sucesso estelar do poeta ilhéu: o “Rancho do Amor à Ilha”.
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Os carnavais mudaram, muita água passou por baixo da ponte Hercílio Luz, os salões se esvaziaram – as orquestras do Lira e do Doze já não se encontram mais debaixo da figueira, às quartas-feiras de cinzas.
Querem saber? Falta som, serpentina e lança-perfume da Rhodia, aqueles tubos dourados que coloriam os nossos sonhos.
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